Por Esther Engelsma
Sentada na mesa de cozinha da minha mãe, com minha bebê em meus braços e com lágrimas em meus olhos, eu compartilhei com ela, pela primeira vez, como pareciam improdutivos o trabalho da maternidade e os cuidados de casa. Quebrou meu coração admitir isso porque eu sabia que esse trabalho tinha propósito. Enquanto estava sentada ali, minha mãe me lembrou do valor de criar filhos e influenciar suas almas.
Eu sabia que deveria estar no caminho certo porque minha bebê parecia contente e a minha casa estava bem limpa, mas não conseguia me sentir produtiva no fim do dia. Meus dias preferidos tinham sido aqueles em que eu conseguira marcar como feitas a maioria das tarefas da minha lista, mas agora as tarefas não ficavam marcadas. Elas tinham que ser feitas de novo e de novo, e eram tantas, e eu nunca conseguia descobrir se eu deveria estar cozinhando, limpando, brincando, trabalhando, dando beijos, relaxando ou dormindo. Não importava qual eu escolhesse, eu sentia que deveria ter usado o meu tempo para algo melhor. Será que algum dia eu me sentiria produtiva como mãe?
Um ano depois, minha resposta é sim, não porque consigo fazer mais coisas do que antes, mas porque Deus tem usado Sua Palavra para mudar a maneira como penso sobre o meu trabalho. Eu pensava que o chamado de Deus para nós, a vontade de Deus para nós, e o propósito de Deus em nos criar, tudo estava centrado em conseguir fazer as coisas. Mas não estão.
O chamado de Deus para você não é conseguir fazer coisas, mas usar bem o tempo.
A vontade de Deus para você não é conseguir fazer coisas, mas crescer em santificação.
O propósito de Deus ao criar você não é conseguir fazer coisas, mas glorificar a Ele.
Conseguir fazer coisas é parte de usar bem o tempo. Usar bem o tempo é parte de crescer em santificação. Crescer em santificação é parte de glorificar a Deus. O fim de tudo é glorificar a Deus. A ferramenta mais básica é conseguir fazer as coisas, ou produtividade. A ferramenta é feita para ser usada, não idolatrada.
É o meio, não é o fim. Porque é apenas um meio, nós nunca ficaremos satisfeitas quando a transformamos em nosso fim.
FAÇA AS COISAS
Você já parou para pensar sobre qual realmente é o seu propósito final na maternidade? Não é mostrar Jesus aos seus filhos, moldar suas mentes para que quando Deus estiver pronto para trabalhar em suas vidas eles estejam prontos para crer? As coisas que você realmente precisa fazer é tudo aquilo que vai levar à salvação e à santificação da sua família.
Ainda assim, estranhamente, a maioria de nossos pensamentos e conversas giram em torno de lavar as roupas, limpar e alimentar as bocas ao invés das almas. Existe um lugar para tudo isso, mas nossas mentes devem ser dominadas por pensamentos mais altos sobre Deus e sobre como apontar as almas da nossa família para a única coisa necessária. Nós devemos ter “uma longa visão da maternidade” que “vê muito além do terceiro trimestre, do desfralde, e até da formatura do ensino médio. A visão longa da maternidade vislumbra o horizonte da eternidade”.[1]
Mas a produtividade diária é importante para essa longa visão, porque é uma ferramenta que te ajuda a focar e ir além do seu alvo de salvação e santificação da sua família - um alvo que somente Deus pode alcançar e, ainda assim, um alvo que Ele te chama para trabalhar em prol (Pv. 22:6). O sucesso espiritual nunca depende de você, mas ainda assim você deve trazer o evangelho para seus filhos. Deus é o único que pode dar o fruto, mas ainda assim você é chamada à obediência e fidelidade. Fazer as coisas é necessário para que você possa manter seus olhos na eternidade. É difícil encontrar o tempo para conversar com seus filhos sobre Jesus quando você ficou procrastinando em outras coisas. É difícil ser um exemplo de devoção quando você raramente para de mexer no celular e pega a sua Bíblia. Um cristão que está vivendo em obediência a Deus é um cristão que está fazendo as coisas porque o trabalho é dado por Deus.
Mas mesmo obediência e fidelidade em nosso trabalho não garantem que vamos nos sentir produtivas, porque a maternidade não é um trabalho eficiente - pelo menos não da forma como você e eu pensamos sobre eficiência. A beleza é que a vida de Jesus também não foi “eficiente”. Ele veio ao mundo como um bebê e teve que aprender tudo do zero - engatinhar, ficar de pé, andar e falar. Ele não começou Seu ministério até que Ele tivesse 30 anos, e Ele “só” ministrou por três anos. Ele passou muito tempo com poucas pessoas que não pareciam entender o que Ele estava tentando ensinar. Em alguns dias, Ele curou multidões de pessoas; em outros, Ele foi para o deserto sozinho. Ele lavou pés, serviu refeições, e abriu mão da Sua vida.
Se eu estivesse no controle do ministério de Jesus, tenho certeza que poderia ter planejado tudo com mais eficiência. Eu teria juntado grupos massivos de pessoas para que Suas palavras tivessem impacto neles todos de uma vez. Não parece um desperdício que tantas lições foram ensinadas para apenas doze homens? Eu teria certeza de fazer com que toda vez em que Ele curasse, todos os doentes estivessem juntos em um único lugar para que pudesse curá-los todos de uma vez. Teria colocado Ele no mundo já aos trinta anos para que ele pudesse ser sábio e maduro imediatamente. Eu faria com que Ele ministrasse por quarenta anos ou mais. Eu iria presumir que já que Jesus é Deus, Ele não iria precisar de tempo nenhum para falar com Seu Pai. Existem diversas formas como eu poderia ter feito o tempo Dele na terra mais “eficiente”. Elisabeth Elliot diz,
Quantos “se apenas” Ele deve ter deixado para trás, tantas outras coisas que Ele “poderia ter” feito... Ainda assim, Ele foi capaz de fazer aquela declaração maravilhosa, “completando a obra que me deste para fazer” ( João 17:4 - NVI). Isso não é o mesmo que dizer que Ele terminou tudo o que Ele possivelmente poderia pensar em fazer ou que Ele fez tudo o que outros pediram. Ele não fez nenhuma declaração de ter feito o que Ele queria fazer. A declaração foi que Ele completou o que lhe foi dado.[2]
Você se pega dizendo a Deus o quanto você poderia trabalhar para Ele se ao menos seus filhos parassem de brigar ou dormissem por mais tempo? Você luta com a demora para alimentar um bebê? Você se pergunta sobre o valor de todo o tempo que gasta lavando os corpos e servindo refeições? Você imagina o porquê Deus designou a maternidade para requerer tanto tempo e energia para influenciar tão poucas pessoas? Você sente que está desperdiçando o seu potencial? Você não seria mais útil se tivesse grande influência sobre muitas pessoas?
Essas são perguntas com as quais eu lutava, e ainda não tenho respostas. Nunca teria escolhido o discipulado como o cerne do ministério de Jesus ou da maternidade. Mas Deus escolheu, e nós não temos que entender por quê. Ele não espera isso de nós, assim como nós não esperamos que nossas crianças entendam todas as razões de colocarmos ervilhas nos seus pratos. Mas nós temos que confiar que o Seu caminho é melhor e Seus pensamentos são mais altos que os nossos. Nós temos que confiar que o que Deus diz que é efetivo é melhor do que aquilo que achamos eficiente. E no confiar, nós temos que obedecer, assim como esperamos que nossas crianças obedeçam comendo as ervilhas.
Confiar que esse método “ineficiente” é a maneira que Deus escolheu, nos dá paz quando não conseguimos fazer tudo na maternidade tão eficientemente quanto gostaríamos. Pode ser difícil se acostumar e aceitar que as tarefas vão demorar mais tempo do que antes. Haverá interrupções e bagunças e dias em que o bebê não vai dormir, e você vai precisar se lembrar de novo e de novo que essas coisas não estão te privando do seu trabalho. Elas são o seu trabalho - trabalho dado a você por um bom Deus cujos pensamentos e caminhos estão bem acima dos seus.
Isso significa que você não deve buscar a produtividade e eficiência no seu trabalho? Claro que não. Com o tempo, a prática e o Google, você pode ficar melhor e mais rápida nas tarefas da maternidade e do lar. Mas nunca deixe que “fazer as coisas” seja o seu alvo principal ou que te afaste do seu alvo principal. Produtividade e eficiência são meras ferramentas dadas por Deus para te empurrar na direção do seu alvo final da salvação e santificação da sua família.
(Esse texto foi retirado do livro "Como Posso Me Sentir Produtiva Como Mãe?" de Esther Engelsma. Você pode adquirir o livro aqui.)
[1] Gloria Furman, Treasuring Christ When Your Hands Are Full: Gospel Meditations for Busy Moms (Wheaton, Ill.: Crossway, 2014), 153. [edição em português: Sem Tempo Para Deus: Intimidade com Cristo Para Mães Atarefadas, (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2015). [2] Elisabeth Elliot, Discipline: The Glad Surrender (Grand Rapids: Revell, 1982), 99.
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