Por Vaneetha Rendall Risner
Quando a dor me sobrecarrega, anseio por companhia.
Quero que alguém fale comigo, chore comigo, sente-se comigo. Quero que alguém coloque carne humana no conforto de Deus. Isso pode soar como pouco espiritual para algumas pessoas. Sempre pareceu levemente não-espiritual para mim. Parecia fraco querer conforto dos outros. Pensei que se só Deus fosse suficiente para atender a todas as minhas necessidades, nunca mais iria querer outra pessoa.
E, claro, ele é suficiente. Precisamos da presença de Deus mais do que de qualquer outra coisa. Ele é o Deus de toda consolação. Sua comunhão e amor são o que nossos corações mais precisam.
O Presente da Comunidade
No entanto, ao mesmo tempo, também anseio pelo conforto dos meus amigos. Preciso de comunidade. E preciso mais agudamente quando estou sofrendo. Essa necessidade sempre me pareceu de alguma forma profana. Uma parte da minha carne pecaminosa que um dia seria redimida. Uma fraqueza que diminuiria com o tempo. Presumi que meu papel na comunidade deveria ser apenas de servir, não receber.
Então eu vi. Quando notei pela primeira vez, me assustou. Em seus momentos mais sombrios, Jesus queria seus amigos. Marcos 14:32-34 diz:
Então, foram a um lugar chamado Getsêmani; ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar. E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai.
Jesus não queria ficar sozinho em seu sofrimento. Ele queria companhia humana. Jesus não pediu aos seus discípulos para acompanhá-lo quando estava se comunicando com seu Pai. Ele frequentemente levantou-se no início da manhã para estar com Deus sozinho. Mas vemos que em sua hora de desespero, quando ele estava enfrentando uma agonia indescritível, pediu a seus amigos para estarem com ele.
Simplesmente Humano
Uma vez que Deus, o Pai sempre teve comunhão ininterrupta na Trindade, ele nunca sentiu falta de comunidade. Mas Jesus, no jardim, sabia que sua comunhão com Deus logo seria completamente cortada, e ele desejava companheirismo. Claramente esse anseio não era pecaminosamente fraco ou carente. Não refletia uma falta de confiança em Deus ou uma fé frágil. Era simplesmente humano. Deus encarnado ansiou por comunhão. Porque Deus nos criou para viver em comunidade.
Da mesma forma, nossos amigos muitas vezes anseiam por presença em seu sofrimento. Cuidar deles à distância não é suficiente. Não estão procurando respostas para suas perguntas mais profundas ou soluções para seus problemas mais urgentes. Só precisam da nossa presença.
Para alguns de nós, é uma tarefa difícil. Muito mais difícil do que parece. É mais fácil contar histórias. Oferecer conselhos. Discursar sobre otimismo. Recitar um versículo bíblico ou até mesmo entregar um mini-sermão. Isso é mais fácil do que ficar com alguém em sua dor. Queremos alívio instantâneo, para nós e para nossos amigos. Por isso, é tentador tentar apressar sua cura, corrigir seus problemas, aliviar suas dúvidas. Então, sentimos que conseguimos algo.
Simplesmente Sentando
Sentar parece tão inútil. Tão ineficiente. Tão sem propósito. E ainda assim é incrivelmente valioso. Nossa presença por si só é um presente. Enquanto nos sentamos, nossos amigos sofredores podem não responder à conversa. Alguns se comunicam pouco em sua dor. Eles processam internamente. Não oferecem palavras. Talvez algumas lágrimas. Talvez um olhar vago. Talvez apenas um vasto vazio.
Outras pessoas são processadores verbais, inundando-nos com palavras sobre como estão se sentindo e o que estão pensando. A maioria dessas palavras não são cuidadosamente pensadas. Ou totalmente teológicas. Na melhor das hipóteses, são gemidos dolorosos e não muito destinados a avaliação ou julgamento.
Mas não importa como eles a processam, ninguém está nos pedindo um dilúvio de palavras em resposta. Só querem alguém lá com elas.
Simplesmente estar presente com nossos amigos tem mais efeito curativo do que podemos imaginar. Ainda me lembro de uma amiga que costumava passar lá em casa depois que nosso filho, Paul, morreu. Ela raramente falava e, na maioria das vezes, sentava-se comigo discretamente. Adorava recebê-la lá. Não achava que tinha que conversar. Mas, ao mesmo tempo, sabia que ela ouviria se eu quisesse falar. Não queria ficar sozinha, embora eu nunca teria expressado dessa forma. Simplesmente sabia que a presença dela era um grande conforto.
O autor Joe Bayly teve uma experiência semelhante depois de enterrar seu segundo filho. Bayly diz:
Eu estava sentado, despedaçado pela dor. Alguém veio e falou comigo sobre os negócios de Deus, de por que aconteceu, de esperança além do túmulo. Ele falava constantemente, dizia coisas que sabia que eram verdade. Fiquei impassível, só que queria que ele fosse embora. Ele finalmente foi.
Outro veio e sentou-se ao meu lado. Ele não falou. Não fez perguntas pensadas. Apenas sentou-se ao meu lado por uma hora ou mais, ouviu quando eu disse algo, respondeu brevemente, orou de forma simples, saiu.
Fiquei comovido. Fui confortado. Não gostei de vê-lo ir embora.[1]
Eu entendo o primeiro amigo de Bayly. Ele queria melhorar as coisas. Queria fazer algo, e as palavras pareciam ser a resposta. Pensou que suas palavras trariam conforto.
Estou bem familiarizada com essa atitude. Quando há algo a ser feito, eu quero fazer. Mas quando não há mais nada para fazer, costumo fugir. É menos desconfortável. Menos desconfortável para mim, isso é.
O pediatra neonatal chamado Dr. John Wyatt não foge. Em sua prática médica, teve que tomar decisões clínicas difíceis e dolorosas. Às vezes não há tratamentos para seus pacientes minúsculos; seu treinamento e experiência não podem fazer mais nada. É então que Wyatt simplesmente se senta e chora com os pais em luto. E talvez esse seja o seu maior serviço.
Ele diz em seu livro, Matters of Life and Death (Questões de Vida ou Morte),
Sofrimento em outro ser humano é um chamado para o resto de nós sermos comunidade. É um chamado para estar lá. Sofrimento não é uma pergunta que exige uma resposta, não é um problema que requer uma solução, é um mistério que exige uma presença.[2]
Que lembrete poderoso de como podemos confortar aqueles que sofrem. E como os outros podem nos confortar também. Pois o sofrimento é um mistério que exige uma presença.
(Esse texto é um capítulo e foi extraído do livro "As Cicatrizes que Me Moldaram" de Vaneetha Rendall Risner. Você pode comprar o livro aqui. )
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