Por Vaneetha Rendall Risner
“Eu luto para crer que Deus me ama”.
Uma querida amiga me mandou isso meses atrás, e carreguei isso no meu coração desde então. Entendo o que ela quer dizer. Esses sentimentos me bombardearam inúmeras vezes. Muitas vezes, em dias em que o desespero me domina. Dias que começam lutando para sair da cama, imaginando por que eu deveria continuar. Dias que são alimentados apenas pelo dever, que é uma maneira excruciante de viver.
Esses são os dias em que eu me pergunto: Há mais na vida do que isso? Como posso acreditar que Deus me ama quando estou existindo na melhor das hipóteses e me sentindo despedaçada na pior delas? Olhava para a vida dos meus amigos e me sentia trapaceada. Sabia que eles tinham suas próprias lutas, mas da minha perspectiva, Deus transmitia sol ao longo de seus dias enquanto o meu era ofuscado por nuvens e chuva. Foi difícil ver o amor de Deus nisso.
Chuva por um Motivo
E a chuva na minha vida geralmente vinha quando eu menos esperava. Quando era o mais inconveniente. Quando era o mais doloroso. A chuva parecia não ter outro propósito a não ser trazer revolta e dor. Lutei para ver qualquer bem nela.
Porque no meio de ser moldado, é difícil ver qualquer coisa. Quando estou sendo atingida pela chuva, tudo está nublado e cinza. Minha visão está obscurecida. Só consigo pensar em encontrar a paz. Ficar seca. Se deliciando com a luz do sol. E imaginando se algum dia chegarei lá.
Mas depois que a chuva passa, ou mesmo quando faz uma pausa, posso olhar ao redor e ver o que Deus produziu através da tempestade. Uma dependência de Deus que é inconfundível. Uma fé que foi testada. Uma confiança que não é afetada pelas circunstâncias. Quando Deus agita o que pode ser abalado, o que resta é duradouro (Hb 12:27). E isso é um presente que escapa comparação.
Como Joel 2:23 diz em uma tradução: “Exultem no Senhor, seu Deus! Pois ele envia as chuvas na medida certa” (NVT).
Quando tenho um vislumbre da perspectiva de Deus, vejo minhas provações de um jeito bem diferente. Vejo o que estão produzindo em mim, as maneiras que estão me moldando, e como trazem glória a Deus.
Posso ser grata pelo que Deus me ensina sobre si mesmo durante a tempestade.
Minha fé é muitas vezes fortalecida, meu amor por Deus é aprofundado, e meus apegos mundanos parecem menos sedutores. E então, posso agradecer a Deus pela tempestade. Posso ver que foi trazida a mim por um amor extravagante. Posso ver que a chuva que Deus envia demonstra sua fidelidade.
Chuva que Reenquadra
A Bíblia me mostra que a chuva é um presente de Deus. A chuva produz frutos em nossas vidas. Com sol o tempo todo e sem chuva, ficamos frágeis e secos — úteis para ninguém e nada. Frutos abundantes e que dão vida exigem chuva. D. A. Carson diz: “Uma das coisas que os crentes em luto ou sofrimento têm é a perspectiva de serem mais frutíferos do que jamais poderiam ter imaginado”.[1]
Então, na chuva, quando nossas provações são mais ferozes, Deus está demonstrando seu amor por nós mais poderosamente. Quando nem sentimos sua presença, mas temos que confiar em suas promessas, ele está fazendo um trabalho mais profundo do que poderíamos imaginar.
O sofrimento nos muda como nada mais pode. Ele nos atrai a Deus. Nos torna mais compassivos, compreensivos e sábios.
Produz perseverança e nos ensina a orar seriamente. Ele reformula nossa perspectiva.
Aqueles que sofreram profundamente sabem como confortar os outros em sua dor. São menos propensos a traçar linhas retas entre obediência e bênção porque entendem o mistério do sofrimento, da vida e de Deus. Não há respostas fáceis com o luto, e fingir tê-las pode parecer superficial na melhor das hipóteses e cruel na pior. Deus e seus caminhos são inescrutáveis, e muitas vezes precisamos deixá-los assim sem oferecer explicações banais.
Ninguém pode entender ou explicar o sofrimento do outro. Assim como não posso entender completamente ou explicar o meu próprio. Simplesmente devo confiar que ele está usando todas as coisas para o meu bem. Para me envolver ao invés de me alienar. Para prosperar, não para me machucar. Para me dar esperança e um futuro.
Sem o Senhor, estes últimos vinte anos teriam me feito amarga. Vinte anos que viram a morte do meu filho, uma doença debilitante, e um casamento dissolvido, entre outras provações. Mas esses vinte anos trouxeram uma intimidade com Cristo, uma alegria inabalável, e uma consciência mais aguçada do meu pecado. E por causa de Jesus, essas bênçãos acabarão superando toda a dor. Minha vida vacilou entre o sol glorioso e as terríveis chuvas. Nunca soube quanto tempo essas temporadas durariam. Mas sei que ainda que ame a luz do sol, preciso da chuva porque ela faz o trabalho mais profundo na minha vida. Não desejo uma vida livre de dores para qualquer pessoa que amo. Uma vida livre de dor não é uma bênção. Uma vida livre de dor rende pouco daquilo que é de valor eterno. A chuva que Deus envia demonstra sua fidelidade.
Então, quero dizer à minha querida amiga:
Entendo como você se sente. Essas provações implacáveis podem fazer você sentir que Deus não se importa, ou não te ama. Nada poderia estar mais longe da verdade. Mesmo que Deus possa parecer distante, ele está mais perto agora do que nunca.
Está fazendo coisas em sua vida que vão surpreendê-la quando for capaz de dar um passo e olhar para elas. Esta chuva torrencial em sua vida é um sinal de seu amor.
A chuva que Deus envia demonstra sua fidelidade a você.
(Esse texto foi extraído do livro "As Cicatrizes que Me Moldaram" de Vaneetha Rendall Risner. Você pode comprar o livro aqui. )
[1] D. A. Carson, How Long, O Lord?: Reflections on Suffering and Evil (Grand Rapids: Baker Academic, 1990), 109.
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