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O Governo tem Limites em sua Autoridade?

Foto do escritor: Anthony ForsythAnthony Forsyth

Por Anthony Forsyth


Sabemos que toda autoridade pertence a Deus. Portanto, qualquer autoridade que César (o governo civil) tenha, ele a tem porque Deus a deu. Não importa se ele é crente ou não, ou se ele reconhece a Deus ou não. Cada César, maior ou menor, cada pessoa na escala do governo humano com autoridade sobre os outros, é um servo de Deus – autoridade delegada por Ele e para Ele.


Está claro nas Escrituras que César tem sua autoridade delegada. Podemos encontrar os princípios do governo humano desde a aliança de Noé em Gênesis 9, embora esteja além do escopo deste livro investigar isso ao longo da história bíblica. É suficiente dizer que já vimos em Daniel 2 que Deus é aquele que nomeia reis e remove reis, ele os exalta e os humilha, e Ele claramente lhes deu algum tipo de domínio.


Em Mateus 22:21, temos a conhecida expressão “Dai a César o que é de César; e a Deus o que é de Deus”. No mínimo, isso nos diz que há coisas que pertencem a César – que ele tem um domínio. Mas (e isso é importante), não devemos isolar essa expressão e pensar que o domínio de César não faz mais parte da autoridade de Deus, pois sabemos que toda autoridade pertence a Deus. No entanto, há claramente um domínio que foi delegado a César. E está igualmente claro que há coisas que Deus não delegou a ele.


Portanto, a questão agora não é apenas, como a maioria dos cristãos aparentemente acredita, “é pecado o que estou sendo ordenado a fazer ou não?”. A questão também é esta: “que autoridade Deus delegou a César?”. Veremos isso em breve quando examinarmos Romanos 13, mas, por enquanto, devemos ressaltar algo que deve sustentar essa análise – César não tem autoridade além daquela que Deus lhe concedeu.


Para colocar isso de uma perspectiva diferente, devemos dar a César as coisas que são dele, mas César não decide quais são essas coisas. Só Deus decide. Porque toda autoridade pertence a Ele.


Este é um conceito revolucionário para muitos hoje. Ainda assim, é inescapavelmente bíblico. A razão pela qual parece tão radical para nós é que nos tornamos muito imperceptivelmente acostumados à visão de mundo do estatismo.


ESTATISMO: O GOVERNO COMO DEUS

A Bíblia, como vimos, ensina que toda autoridade é de Deus, então qualquer autoridade que César possua foi delegada a ele por Deus. Assim, ele é responsável perante Deus pelo exercício dessa autoridade delegada. Os limites dessa autoridade delegada são definidos por Deus e não por César. Mas quando César remove Deus da equação, quem então decide os limites da autoridade de César? É claro, será César! E ao fazer isso, César, quer ele esteja ciente disso ou não, está tomando o lugar de Deus – ele está se fazendo como um deus.

G. K. Chesterton disse a famosa frase: “Uma vez abolido Deus, o governo se torna Deus”.[1]

Isso é estatismo.


A humanidade foi criada para ser portadora da imagem de nosso Criador. Temos uma necessidade inata de Deus – somos projetados para adorar, e faremos isso, seja a Deus

ou não. Nossa natureza pecaminosa significa que queremos rejeitar a Ele e Seus mandamentos, mas mesmo assim, nossos corações naturalmente são inclinados a algum tipo de adoração. Então quando César remove Deus de seu pensamento, ele tende a se tornar um deus substituto.


O estatismo se tornou a norma hoje. Agora estamos tão prontamente acostumados a isso que a maioria de nós, inclusive os cristãos, aceitam sem questionar. Mesmo na América, um país que foi fundado especificamente para resistir à invasão inevitável do estatismo, essa cosmovisão se consolidou.


“César pode fazer esse decreto?” “Claro que pode!” “Por quê?” “Porque ele é César!” Estatismo é a cosmovisão em que César não é mais um servo de Deus; ao contrário, ele

foi efetivamente transformado em um deus – ele, até certo ponto, assumiu o papel de Deus em nossas vidas.


Não adianta alegarmos que não adoramos César porque adoramos a Cristo. Não é verdade que os Israelitas no Antigo Testamento adoravam a Yahweh e ao mesmo tempo cometiam idolatria? César raramente (se é que o faça) deseja ser um deus monoteísta – ele fica feliz em ser adorado ao lado de outros. A questão não era tanto que eles haviam renegado a Yahweh completamente, mas sim que O viam como insuficiente e haviam acrescentado outros deuses em certas esferas. Eles ainda podiam cultuar no dia da expiação, mas isso não os impedia de fazer uma oferenda a Baal em busca de uma colheita melhor.


César recebeu autoridade delegada pelo único que pode dá-la – Deus. Mas quando ele rejeita aquele que delega autoridade a ele, passa a criar seus próprios limites, ou a falta

deles, em lugar de Deus. Ele é quem agora delega autoridade. Agora é ele quem determina seu propósito e seus limites. Tornou-se o que crias as regras, o rei, o governante, aquele a ser temido e obedecido. César declarou-se como um deus.


Deixe-me ser bastante claro neste ponto. Se nós, como cristãos, aceitarmos e abraçarmos a auto-declaração de César, seja por sua declaração explícita ou por seu comportamento

prático, somos idólatras. Devemos pensar seriamente de que forma isso é diferente dos adoradores de Yahweh que também sacrificavam a Baal quando nós, que professamos a Cristo, também nos curvamos diante de César quando ele assume uma autoridade que Deus nunca lhe deu. Sem dúvida, há momentos em que podemos ignorar sua falsa

autoridade com pouca consequência e momentos em que talvez possamos reconciliar algumas decisões como sendo parte de algum tipo de contrato social mutuamente acordado. Mas, ainda assim, uma linha deve ser traçada.


Se um presidente, primeiro-ministro ou governador decidisse amanhã que todos devemos pular de uma perna só enquanto estamos no mercado às sextas-feiras, espero que, neste ponto de nossa jornada, respondamos com uma risada e um firme “não”. Sabemos que César não pode simplesmente fazer o que quer, e presumiríamos (com razão) que tal absurdo está fora de seu alcance. Infelizmente, tornou-se claro que muitos em nossa sociedade obedeceriam isso. Ainda mais tristemente, muitos cristãos também o fariam,

aos gritos de “Romanos 13!” O estatismo corrompeu tanto nosso pensamento que podemos até distorcer as Escrituras para apoiá-lo. A idolatria sempre levou a uma exegese ruim.


Portanto, devemos analisar Romanos 13 e ver o que diz sobre as limitações da autoridade que Deus delegou ao governo.


(Esse texto foi extraído do livro "César e a Igreja: Uma Análise Bíblica sobre a Relação do Estado e a Igreja" de Anthony Forsyth. Você pode adquirir o livro aqui.)

 

[1]“Christendom in Dublin”, G. K. Chesterton, 1932.

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