Por Brian G. Hedges
Uma ida ao dentista trouxe más notícias. Eu precisava de um canal radicular. Um raio-X de um molar mostrou decadência até o nervo. Era tarde demais para simplesmente preencher a cavidade. Tinha duas opções: canal radicular ou extração.
Eu tinha notado um problema, então não estava completamente surpreso. Haviam sinais: comida presa nos meus dentes, irritação com água fria, dor de dente ocasional. Mas o problema começou muito antes de eu notar sintomas ou receber um diagnóstico oficial. A decadência se instala gradualmente, lentamente, imperceptivelmente. O mesmo acontece em nossas vidas espirituais.
Apocalipse 3 contém uma carta para um grupo de cristãos que experimentaram decadência espiritual. Entregue ao anjo (ou mensageiro) da igreja através do apóstolo João, esta
é uma carta pessoal do Cristo exaltado à igreja de Sardes. É uma carta de confronto e exortação, contendo tanto o diagnóstico quanto a cura.
Ao anjo da igreja em Sardes escreve:
Estas coisas diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti. (Ap 3:1-3)
O diagnóstico é decadência espiritual: “tens nome de que vives e estás morto” (v 1). Aqui estava uma igreja com um bom nome. Eles tinham uma reputação de vitalidade espiritual. Consideradas todas as aparências externas eles eram fortes, ativos e saudáveis. Mas o fedor da morte fluía por debaixo do assoalho de sua atividade religiosa. As coisas boas que permaneceram na igreja estavam prestes a morrer. Suas obras não eram perfeitas, ou completas, diante de Deus (v 2). Eles se contentaram com meias medidas — obediência
parcial. Eles tinham uma aparência de espiritualidade sem a realidade. Eles tinham a aparência de piedade, mas negavam seu poder (2 Tm 3:5).
Vemos o antídoto para tal mal-estar espiritual em uma série de imperativos nos versos 2-3: “Sê vigilante”, “consolida o resto”, “Lembra-te... do que tens recebido e ouvido”, “guarda-o” e “arrepende-te”. A cura para a decadência espiritual, em outras palavras, é o arrependimento, vigilância e obediência renovada.
A decadência espiritual é perigosa porque é o início da apostasia. A decadência espiritual é semelhante ao que C. S. Lewis descreve como “o caminho mais seguro para o inferno... a inclinação suave, sob os pés macios, sem curvas repentinas, sem marcos, sem placas de sinalização”[1]. Por causa da graça salvadora e perseverante de Deus, os verdadeiros cristãos não podem seguir este caminho até o inferno, mas eles podem chegar miseravelmente perto e geralmente encontram o caminho de volta de forma cara e dolorosa.
O que causa decadência espiritual? Negligência. Se você beber muito refrigerante, economizar na escovação dos dentes, e evitar o fio dental completamente, se prepare para dizer olá para as cáries.
E se você absorver o mundo, economizar na leitura da Bíblia, evitar a meditação e negligenciar sua vida de oração, logo estará coletando sua correspondência nos correios de Sardes.
Há muitos sintomas da decadência espiritual. Aqui estão dois: fingir e valorizar um pecado secreto. Fingir é ler as Escrituras sem aplicá-la à sua vida, cantar hinos na igreja com pouco amor por Jesus, e fazer orações frias com um coração longe de Deus.
Valorizar um pecado secreto é persistir em um padrão deliberado de desobediência contínua, apesar dos avisos de consciência, do Espírito Santo e da palavra, enquanto
finge para os outros que está tudo bem.
A cura para a decadência espiritual é o arrependimento renovado e a fé em Cristo. E a prevenção contra a decadência espiritual? A vigilância. Owen diz que “a maioria de nossas decadências espirituais e esterilidades surgem de uma admissão desordenada de outras coisas em nossas mentes”. Isso é o que enfraquece a “graça em todas as suas operações”.
Mas quando a mente está cheia de pensamentos de Cristo e sua glória, quando a alma ali se apega a ele com afetos intensos, eles vão expulsar, ou não dar admissão, a essas causas de fraqueza espiritual e indisposição.... Onde estamos envolvidos neste dever, ele vai incitar todas as graças ao seu devido exercício.... Isso certamente nos colocará em uma vigilância atenta e conflito constante contra todo o trabalho enganador do pecado, contra todas as entradas da tentação, contra todos os caminhos e meios de nos surpreender em práticas tolas, por imaginações vãs, que são as causas de nossas decadências.[2]
Mais uma vez, vemos a centralidade de Cristo em toda a empreitada de vigiar. Só mantendo minha mente “cheia de pensamentos de Cristo e sua glória” posso manter fora as causas da fraqueza espiritual. Somente agarrando-me a Jesus “com afetos intensos” vigiarei contra os catalisadores da decadência espiritual.
[1] C. S. Lewis, Screwtape Letters, 72.
[2] Owen, Meditations and Discourses on the Glory of Christ Applied unto Unconverted Sinners and Saints Under Spiritual Decays, em Works, 1:460–61 [edição em português: A glória de Cristo (São Paulo: Editora PES, 2008).
(Esse texto foi extraído do livro "Vigilância: Recuperando a Disciplina Espiritual Perdida" de Brian Hedges. Você pode adquirir o livro aqui.)
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