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Nem Todo Conflito é Pecado

Foto do escritor: Rafael SalazarRafael Salazar

Por Rafael Salazar


Nossa cultura é quase unânime em sua condenação de conflitos, embates e confrontos. É uma marca de nosso tempo o valorizarmos e promovermos (pelo menos em público) a harmonia, união e tolerância. A Bíblia também fala muito sobre paz e unidade como sendo a vontade de Deus para sua igreja. Mas qual a diferença entre a paz bíblica e a "harmonia social" que o mundo tanto promove? Existe alguma?


Essa é uma questão curiosa e muito relevante. Nosso instinto cristão é sempre reagir positivamente a todos os chamados à qualquer forma de pacificação e resolução de conflitos. Afinal de contas, somos os bem-aventurados pacificadores (Mateus 5)! Ainda assim, estou convencido de que existem implicações biblicamente incoerentes e perigosíssimas na postura moderna de tornar a "paz social" um valor absoluto.


Antes de apresentar minhas preocupações com essa questão, preciso deixar uma coisa clara: existem conflitos que são pecaminosos. Discussões egoístas, motivadas por inveja e que desmerecem a verdade de Deus são trágicas e devem ser evitadas. Pacificação é necessária e correta em todas essas situações, como a própria Escritura deixa claro. Mas (e finalmente, chegou esse "mas"), nem todo conflito é pecado.


Conflitos são inconvenientes, cansativos, muitas vezes pecaminosos, consumidores de tempo e poucas vezes produtivos. Ainda assim, todos os relatos bíblicos de homens e mulheres de fé parece os envolver em algum tipo de conflito. Existe sempre uma "perturbação da paz social" que não é opcional, mas necessária. Por quê?


Bem, uma razão disso é a inimizade plantada por Deus entre a semente da mulher e a semente da serpente nos capítulos iniciais de Gênesis. Deus chega ao jardim paradisíaco, logo após o fatídico pecado do primeiro casal e "perturba" sua paz social. Ele vem realizar a dolorosa operação de corrigir o erro, condenar o pecado e apontar uma solução. Diga-se de passagem, uma operação naturalmente odiada por todos os pecadores.


Mesmo sendo cheia de dor e desconforto, essa correção é fruto de um amor sincero e uma aplicação de justiça real. Não é o zelador que está perturbando a sujeira. Alguém sujou o chão primeiro. Ele apenas conserta o problema.


Esse é o ponto.


Em um mundo cheio de pecadores e seus pecados, vamos testemunhar inúmeras situações de erro. Raras são as horas desprovidas de manchas de pecado (seja o nosso próprio ou o de outros). Sim, isso é a realidade. A grande questão é que o pecado (ações de inimizade contra Deus e Sua ordenação do mundo) é conflituoso. Logo, qualquer ação bem-intencionada de corrigir o erro gerará situações de conflito.


Em situações como essa, a abordagem de "pacificação" e "harmonia" pede algo que não pode ser oferecido sem o sacrifício da verdade e do amor verdadeiro. Essa "harmonia" praticamente exige que eu e você assinemos o óbito da Verdade. E isso é uma faceta da cilada. "Concordem que os dois estão certos!", dizem. Outros pedem: "No fundo ninguém sabe o que é certo e errado, então nada de brigar por isso, por favor!". Essas expressões enchem o ar com o cheiro de Verdade morta. Para esses, tudo é relativo.


Jesus claramente nunca compactuou com esse assassinato da Verdade. Pelo contrário, Ele (que é a própria Verdade) foi sentenciado à morte por homens que viviam na mentira e na hipocrisia (outro nome para o estrangulamento da Verdade pelo bem das aparências e "harmonia social"). Seus discursos, como o que encontramos em Mateus 23, ecoam uma postura combativa, conflituosa e dura demais para alguns. Podemos ouvir alguém perguntar no fundo da sala, "Esse é o Príncipe da Paz?!".


Sim, é Ele mesmo. Mas não a paz "gratiluz", que pisca e brilha na árvore de Natal do shopping da sua cidade. É uma paz específica, real e sólida. Não é maleável, nem um pouco. É rígida e pesada, com o peso do Todo-poderoso. É a paz que significa o alinhamento perfeito com o Criador e Seus propósitos. É a tão admirada shalom.


Essa sólida Rocha de paz é precisamente aquela vista por Daniel em sua interpretação do famoso sonho de Nabucodonosor, em Daniel 2:34-35:

Quando estavas olhando, uma pedra foi cortada sem auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou. Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a palha das eiras no estio, e o vento os levou, e deles não se viram mais vestígios. Mas a pedra que feriu a estátua se tornou em grande montanha, que encheu toda a terra.

Não se parece uma pedra muito "politicamente correta", não é mesmo? É descrita como sendo destrutiva, disruptiva e perigosa. Mas, por que isso?


Ela destrói o mal e o velho mundo dos impérios pagãos para abrir caminho para o glorioso reino de Deus. Algo melhor, mais belo e verdadeiramente bom. Quando essa Rocha chega a uma família, organização, cidade ou nação, todos escutam um grande estrondo. Não dá para fingir que não ouviu o barulho de estruturas de ferro, barro, bronze, prata e ouro se estilhaçando. É alto demais.


Esse som de demolição é a sirene, alertando que a Paz verdadeira chegou. Desconfortável? Por uma lado, sim. Mas por outro, o som mais bonito do mundo. As saraivas de tiros prenunciam o fim da guerra. A verdadeira Paz vem por meio da guerra.


Da próxima vez em que você se encontrar em uma situação de conflito por algo verdadeiro, justo e bíblico, lembre-se do som da Paz. Ela está do outro lado do confronto e não virá se você abrir mão da Verdade ou do Amor verdadeiro. A "harmonia social" é uma atriz que tenta fazer o papel da Paz bíblica. Não aceite imitações.

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