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Josias, Netflix e uma Geração

Foto do escritor: Rafael SalazarRafael Salazar

Sempre foi difícil perceber pontos cegos. Isso é parte do que torna algo um legítimo ponto cego. Existem coisas que são extraordinariamente complicadas de notar, seja uma motocicleta no canto do retrovisor, uma "mania" pessoal de longa data, ou um pecado típico de nossa geração. Mas a negligência de algumas dessas, é claro, tem consequências maiores e mais sérias do que outras.


Na Bíblia, temos a categoria de pecados ocultos para encaixar nossas transgressões que não percebemos. Mas, além dessa categoria, temos um exemplo vívido na história de Israel no Antigo Testamento que atravessa os livros de I e II Reis e I e II Crônicas: a adoração nos lugares altos.


Tão somente os altos não se tiraram; e o povo ainda sacrificava e queimava incenso nos altos. (2 Reis 12:3)

De acordo com o pastor Kevin DeYoung, "esses altares locais eram usados para fazer sacrifícios, queimar incenso, guardar festas, e celebrar festivais. Eram lugares pagãos dedicados à adoração de deuses pagãos. Os lugares altos eram normais demais e populares demais para o povo de Deus removê-los". Se você fizer uma leitura rápida de I e II Reis, vai perceber bem rápido que muitos reis bons e fiéis não removeram os altos. Homens como Salomão, Josafá, Joás, Azarias, Jotão, e vários outros que obedeceram a Deus em diversos aspectos, falharam nesse quesito.


Poucos foram os reis de Judá que ousaram remover esses altos, e seus nomes são apontados com um louvor especial na história por tamanha coragem e zelo pelas coisas de Deus. Seria possível que hoje em dia também estejamos sujeitos a manter e guardar nossos próprios "altos"? Será possível que existam pecados tão populares e tão amplamente aceitos, até por homens de Deus sinceros, em nosso tempo?


De acordo com o pastor DeYoung, em seu artigo We will answer for what we watch, a abordagem contemporânea dos cristãos para com o nosso entretenimento é um exemplo claro dessa categoria de pecados.

Esse é um ponto cego estimado que poucos percebem, e menos ainda ousam questionar.

Sendo bem sincero, é fácil perceber que a postura contemporânea dos cristãos para com o entretenimento (filmes, séries, programas de TV, música e etc.) é um problema recente. Tudo indica que surgiu a partir de uma forte reação à gerações passadas que adotavam uma postura mais restritiva em seu relacionamento com a cultura secular e o mundo ao nosso redor. Sim, existiram críticas válidas. No entanto, a reação da nova geração, aquela representada pelos filhos de pais restritivos, foi abrir amplamente os portões de seus olhos e ouvidos quase sem restrições. Qualquer coisa passou a valer.


Como Kevin DeYoung diz, "é difícil imaginar que muitos de nós são cuidadosos demais com o sexo, nudez e violência gráfica que colocamos diante de nossos olhos".

Se a geração dos pais rejeitava a cultura secular como "mundana", os filhos consideram o "secular" como sendo o próprio padrão exigido para ser parte do seu dia-a-dia. Diversas racionalizações foram invocadas para justificar critérios cada vez mais baixos para o entretenimento dos cristãos. Em muitos lares, a programação da Netflix ou TV é quase, senão idêntica, à do seu vizinho promíscuo e abertamente ateu. É um sinal de que algo está errado.


Como Lutero dizia, a história da Igreja é um bêbado montando um cavalo, sendo lançado ao chão de um lado apenas para montar de novo e ser lançado do outro. Estamos agora do outro lado desse cavalo (o lado antinomiano, diga-se de passagem), com o rosto na lama do pecado. Sim, em nossos dias são poucos os irmãos que costumam falar sobre o perigo espiritual associado a um desleixo quanto ao nosso entretenimento.


Se mal existem advertências e alertas quanto ao conteúdo explicitamente pecaminoso apresentado nas telas, quem dirá com relação aos mais sutis e astutas ciladas de Satanás? Onde estão os líderes vigilantes de nossos rebanhos? Alguns, é verdade, entretidos com os mesmos conteúdos. Estão envolvidos demais para soar o alarme sem correr o risco de precisar fazer uma mudança radical em seu estilo de vida.


Assim como em Israel, alguns reis também visitavam os altos, estavam pessoalmente envolvidos. Era parte de seu estilo de vida. Qualquer mudança em sua liderança com relação a isso, teria de incluir uma mudança pessoal de sacrifício. Tirar os altos nunca foi algo fácil. Mas, será que não vemos nos exemplos daqueles poucos corajosos como o rei Josias (2 Reis 23:25), que isso é possível?


Sim, é possível. Mais do que isso, é necessário se quisermos ver uma reforma profunda e real no discipulado de nossa geração. Todos passamos, quase sem exceção, mais tempo diante de telas do que todas as gerações de cristãos que vieram antes de nós. Somos formados e moldados diante delas. Nosso discipulado, para bem ou para mal, ocorre substancialmente diante de diversos pixels brilhantes.


O que você acha de considerar fazer algo a respeito? Pense nisso. Reflita sobre aquilo que te faz rir, chorar e se empolgar em seu entretenimento. Pergunte a si mesmo o quanto disso não é ativamente nocivo à sua comunhão com um Deus santo. Questione-se sobre quantos gatilhos para pecados foram acionados em momentos de entretenimento. Vale a pena?


E se a sua decisão quanto a isso for uma bênção inesperada para a saúde espiritual de sua família? Quantos casais poderiam experimentar menos pensamentos fortuitos de adultério, se ao menos se comprometessem a não assistir cenas de nudez? Quantos filhos poderiam ser poupados de exposição desnecessária e vil à conteúdos LGBT, se ao menos seus pais se comprometessem a não assistir pecado nos filmes de sexta-feira à noite?


As respostas à essas perguntas talvez nunca se tornem públicas. Pode ser que tudo continue a ser como é, e os lugares altos continuem onde estão por mais gerações. Mas e sua família? E sua participação nisso? Essa pode acabar. Você pode ser o início de algo belo. Pode se comprometer a entreter-se somente com aquilo que é verdadeiro, tudo que é honesto, justo, puro, tudo que é de boa-fama. Faça desse o critério: "Se alguma virtude há, e algum louvor existe, nisso pensai" (Fp 4:8).

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