Por Joel R. Beeke
Ainda que possa surpreender muitas pessoas hoje, parte do plano amoroso de Deus para treinar filhos pequenos a direcionar seus corações com sabedoria é castigá-los quando eles precisam. Provérbios 23:13-14 diz, “Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno”. A vara do castigo deve ser aplicada não para machucar o corpo e certamente não para dar à criança o que o seu pecado merece, mas para frear sua tendência natural de escolher o mal e rejeitar o que é bom.
Aplicar a disciplina corporal é um dos aspectos mais desagradáveis de governar o lar de uma maneira piedosa. Algumas pessoas equivalem o uso da vara com raiva e abuso, mas todo cristão deve se lembrar que “a ira do homem não produz a justiça de Deus” (Tg 1:20). A vara da ira não é a vara da correção. A disciplina dos pais deve se conformar com o exemplo do nosso Pai no céu: “Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem”. (Pv 3:12). O motivo é amor, não raiva; a maneira é paternal, não judicial; o propósito principal é a correção, não a punição (veja Hb 12:5–14).
A disciplina pode dar errado se você não mantiver em mente que está agindo a serviço de Deus. Do contrário, a tendência será disciplinar os filhos com base em suas emoções e irritações pessoais ao invés de ser nos mandamentos de Deus. A disciplina injusta e egoísta pode provocar apenas a ira e o desrespeito das crianças em relação a você. Se descontrolar seu temperamento e começar a gritar, você logo vai se esquecer de todo o propósito da disciplina piedosa.
Nunca se esqueça que quando você disciplina, está disciplinando em nome de Deus. Ele colocou a vara da correção em sua mão, e você é um mordomo dessa vara em Seu lugar.
Como representante de Deus, você deve administrar a disciplina com as três características seguintes.
Primeiro, amor: “Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enfades da sua repreensão. Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem”, diz Provérbios 3:11-12. Disciplinar sem amor manifesta aos seus filhos a imagem de Satanás, não de Deus. Quando Satanás nos aflige, o seu propósito é nos amargurar contra Deus e assim trazer a nossa destruição. Quando Deus nos castiga, o Seu propósito é nos tornar participantes de Sua santidade e retidão (veja Hb 12:10–11).
A segunda característica é instrução. Cristo diz, “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te... Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 3:22). Você deve juntar a repreensão e o castigo com uma explicação do que seu filho fez de errado, o que é o arrependimento, e quão livre e segura é a graça que Cristo mostra àqueles que abandonam seus pecados, para que a mente e consciência do seu filho possa identificar a justiça e bondade no que você fez. Essa é uma razão do porquê a vara deve ser aplicada somente quando a criança é crescida o suficiente para entender a instrução. Leve seu filho para um quarto em particular, explique o que ele fez de errado, e o porquê você deve aplicar a vara. Depois, abrace seu filho e ore com ele. Então, considere o assunto como resolvido. Não traga o assunto de volta. Como Spurgeon disse, quando você enterra um cachorro, você não deixa o rabo dele de fora aparecendo.
Finalmente, nós devemos disciplinar com compaixão. Salmos 103:13-14 diz, “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó”. Entre dentro da experiência do filho. Lembre-se do poder da tentação e da rebeldia do coração humano. Identifique-se com ele, como um pecador que precisa aprender com a correção. Por favor, perceba que compaixão não significa deixar de aplicar a disciplina aleatoriamente, especialmente quando a criança confessa o arrependimento imediatamente. Essa é uma visão distorcida da graça divina que resulta na inconsistência dos pais e pode resultar hipocrisia nos filhos. Mas compaixão significa que limitamos a disciplina ao nível de ofensa moral, para que, ainda que deva doer para ser eficaz, não machuque o corpo e a alma da criança. A disciplina regulada pela Bíblia quando administrada com calma não é abuso infantil, mas um cuidado infantil preventivo que pode livrar a criança de hábitos e práticas destrutivas.
Pode parecer que a aplicação da vara não seja capaz de construir convicções no interior porque aplica força externa para controlar o comportamento da criança, mas disciplina corporal, usada com amor e justiça, ajuda a formar convicções morais e religiosas. A consciência de toda criança testifica que existe um Deus que nos ordena a fazer o certo e nos proíbe de fazer o errado e que aqueles que desobedecem a Deus ao fazer o errado merecem Seu castigo (Rm 1:19–20, 32; 2:14–15). Desde a queda do homem, entretanto, Satanás tem nos seduzido com a mentira de que se pecarmos “é certo que não morreremos” (Gn 3:4). Aqueles que acreditam nessa mentiram pensam que sua iniquidade não será descoberta, e assim desprezam e rejeitam o temor a Deus (Sl 36:1–2). Pecadores “desviam-se desde a sua concepção; nascem proferindo mentiras”, diz Salmos 58:3, e a mentira mais fundamental é que o pecado é bom e a obediência é ruim. Assim, a consciência é enfraquecida, atacada e cauterizada por Satanás e pelo pecado.
Alguns pais tentam proteger seus filhos das consequências do pecado. Como resultado, seus filhos não percebem a completa seriedade de seu mal comportamento.
Pais piedosos devem aplicar uma medida sábia de dor para ensinar seus filhos que o pecado é ruim e a obediência é boa. Sabemos que rebelião contra autoridades, ódio e violência, fornicação, roubo, mentira, e avareza trarão terríveis consequências à criança quando se tornar adulta e, por fim a levará para o inferno (1 Co 6:9). Crianças devem aprender essa lição cedo, na segurança do lar. Disciplina corporal, a “vara da correção”, ajuda muito a fortalecer a consciência da criança enquanto ainda é jovem.
(Esse texto foi extraído do livro "Como Plantar Convicções Piedosas em Nossos Filhos?" de Joel R. Beeke. Você pode adquirir o livro aqui.)
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