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Como Saber se Amo a Deus?

Atualizado: 6 de mai. de 2024

Por Thomas Watson


Vamos testar a nós mesmos imparcialmente para ver se fazemos parte daqueles que amam a Deus. Para checar disso, uma vez que nosso amor é visto mais claramente pelos frutos, eu listarei catorze sinais, ou frutos, de amor a Deus.


É nossa responsabilidade sondar cuidadosamente se algum desses frutos crescem em nosso jardim.

1. O primeiro fruto do amor é o pensamento frequente da mente sobre Deus.


A pessoa apaixonada tem sempre seus pensamentos focados no objeto de seu amor. Aquele que ama Deus é arrebatado e levado com a contemplação de Deus. “Quando acordo ainda estou contigo” (Sl. 139:18 - ACF). Os pensamentos são como viajantes na mente. Os pensamentos de Davi se mantinham na estrada do céu, “ainda estou contigo”.


Deus é o tesouro, e onde está o tesouro, lá está o coração. Com isso, podemos testar nosso amor a Deus. Qual é o assunto da maior parte de nossos pensamentos? Podemos dizer que estamos cheios de prazer quando pensamos em Deus? Nossos pensamentos têm asas? Eles fogem para o alto? Contemplamos a Cristo e Sua glória? Ah, quão longe estão de serem amantes de Deus, aqueles que quase nunca pensam em Deus! “Não há Deus são todas as suas cogitações” (Sl. 10:4). Um pecador tira Deus de seus pensamentos com uma multidão de distrações. Ele nunca pensa em Deus, a menos que com horror, como o prisioneiro pensa no juiz.


2. O próximo fruto do amor é o desejo por comunhão.


O amor deseja intimidade e relação próxima. “Meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo!” (Sl. 84:2). O rei Davi ao ser impedido de acessar a casa de Deus onde estava o tabernáculo, o símbolo visível de Sua presença, suspira ansioso por Deus, e em um santo sentimento de desejo clama pelo Deus vivo. Os amantes querem sempre conversar um com o outro. Se amamos a Deus, valorizamos seus mandamentos, porque é neles que nos encontramos com Ele. Ele fala conosco em Sua Palavra, e falamos com Ele em oração. Através desse critério, vamos examinar o nosso amor a Deus. Desejamos a intimidade da comunhão com Deus? Os amantes não podem ficar muito tempo longe um do outro.


Aqueles que amam a Deus tem uma afeição sagrada, não sabem como viver longe dEle. Podem suportar a falta de qualquer coisa, exceto da presença de Deus. Eles podem viver sem saúde e amigos, podem ser felizes sem uma mesa cheia, mas não podem ser felizes sem Deus. “Não me escondas a tua face, para que eu não me torne como os que baixam à cova” (Sl. 143:7). Os amantes têm seus ataques apaixonados de desmaio. Davi estava pronto para desmaiar e morrer, quando não tinha visão do favor de Deus. Aqueles que amam a Deus não podem se contentar em ter as ordenanças, a menos que possam desfrutar de Deus nelas. Do contrário, seria como aqueles que se inclinam para lamber o vidro, e não o mel.


O que devemos dizer àqueles que conseguem viver a vida toda sem Deus? Eles acham que Deus pode ser melhor à distância: eles reclamam que querem saúde e emprego, mas não querem estar com Deus! Homens ímpios não conhecem a Deus, e como poderiam amar àquele a quem não conhecem! Não, o que é pior, eles não desejam se tornar conhecidos dEle. “E são estes os que disseram a Deus: Retira-te de nós! Não desejamos conhecer os teus caminhos” (Jó 21:14). Pecadores evitam o conhecimento de Deus, eles consideram Sua presença um fardo. Seriam eles amantes de Deus? Será que a mulher ama o marido, na presença de quem não suporta estar?


3. Outro fruto do amor é o luto.


Onde há amor a Deus, há um luto por nossos pecados de crueldade contra Ele. Uma criança que ama seu pai não pode deixar de chorar por tê-lo ofendido. O coração que queima por amor, derrete-se em lágrimas. Ah! Como eu ousaria abusar do amor de um Salvador tão querido?! Será que meu Senhor não sofreu o suficiente sobre a cruz, para que eu o faça sofrer mais? Devo dar a Ele mais fel e vinagre para beber? Quão desleal e ingênuo eu tenho sido! Como eu entristeci Seu Espírito, pisoteei Suas ordens reais, desprezei Seu sangue! Isso abre uma veia de tristeza segundo Deus, e faz o coração sangrar de novo. “[Pedro], saindo dali, chorou amargamente” (Mt. 26:75). Quando Pedro pensou quão grande havia sido o amor de Cristo, como ele havia sido levado para o monte da transfiguração, onde Cristo lhe mostrara a glória do céu em uma visão; o pensamento de que ele negou a Cristo depois de ter recebido tal sinal de amor dele, isso partiu seu coração com dor: ele saiu, e chorou amargamente.


Com esse critério, vamos testar nosso amor a Deus. Derramamos lágrimas de tristeza segundo Deus? Lamentamos nossa crueldade contra Deus, nosso abuso de misericórdia, nossa falta de investimento dos talentos? Quão longe estão de amar a Deus os que pecam diariamente e seus corações nunca os quebrantam! Eles têm um mar de pecado, e nenhuma gota de tristeza. Eles estão tão longe de serem perturbados que até se divertem com seus pecados. “Quando tu fazes mal, então, andas saltando de prazer” (Jr. 11:15 - ARC). Ó, desgraça! Cristo sangrou pelo pecado, e você ri dele? Esses estão longe de amar a Deus. Será que realmente ama o amigo, aqueles que adora causar-lhe injúria?


4. Outro fruto do amor é a generosidade.


O amor é valoroso, transforma a covardia em coragem. O amor faz com que alguém se aventure a enfrentar as maiores dificuldades e perigos. A galinha temerosa será capaz de voar sobre um cão ou serpente para defender seus filhotes. O amor infunde um espírito de bravura e força em um cristão. Aquele que ama Deus se levantará em Sua causa, e será um defensor dEle. “Nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At. 4:20). Aquele que tem medo de assumir que está com Cristo tem pouco amor a Ele.


Nicodemos veio para Cristo às escondidas durante a noite (Jo. 3:2). É evidente que estava com medo de ser visto com Ele durante o dia. O amor lança fora o medo. À medida que o sol expele neblinas e vapores, o amor divino, em grande medida, expulsa o medo carnal. Será que realmente ama a Deus aquele que consegue ouvir Suas benditas verdades questionadas e ficar em silêncio? Aquele que ama seu amigo vai defendê-lo, e vingá-lo quando ele for questionado. Cristo se manifesta para nos defender no céu, e temos medo de nos manifestar para O defender na Terra? O amor anima um cristão, ele dispara seu coração com zelo e o reveste com o aço da coragem.


5. O quinto fruto do amor é a sensibilidade.


Se amamos Deus, nossos corações sofrem pela desonra feita a Deus por homens ímpios. Ao ver, não só os pilares da religião, mas da moralidade, quebrados, e uma inundação de maldade chegando; ao ver os sábados de Deus profanados, Seus juramentos violados, Seu nome desonrado; se houver algum amor a Deus em nós, nosso coração se entristecerá com tais coisas. O justo Ló, em sua alma, estava “afligido pelo procedimento libertino daqueles insubordinados” (2 Pt. 2:7). Os pecados de Sodoma eram tantas lanças ao ponto de perfurar sua alma. Quão longe as pessoas estão de amar a Deus, as que não são afetadas com sua desonra? Se tais pessoas tiverem paz e trabalho, não são sensíveis a mais nenhuma causa. Um homem que está totalmente bêbado, não se importa nem é afetado, embora outro esteja sangrando até a morte por conta dele; assim, muitos, bêbados com o vinho da prosperidade, não são afetados quando a honra de Deus é ferida e Suas verdades deitam sangrando. Se os homens amassem a Deus, sofreriam ao ver Sua glória sofrer e a própria fé tornar-se um mártir.


6. O sexto fruto do amor é o ódio contra o pecado.


O fogo expurga a impureza do metal. O fogo do amor expurga o pecado. “Ó Efraim, que tenho eu com os ídolos?”(Os. 14:8). Aquele que ama a Deus não entregará nada ao pecado, com a exceção de uma declaração de guerra. O pecado não é apenas um golpe contra a honra de Deus, mas contra Seu ser. Será que a pessoa ama seu príncipe, uma vez que abriga outro que é um traidor da coroa? Seria um amigo de Deus aquele que ama o que Deus odeia? O amor de Deus e o amor do pecado não podem habitar juntos. As afeições não podem ser levadas aos dois contrários ao mesmo tempo. Um homem não pode amar a saúde e o veneno; então não se pode amar a Deus e o pecado.


Aquele que permite qualquer pecado secreto em seu coração, está tão longe de amar a Deus como o céu e a terra estão distantes um do outro.

7. Outro fruto do amor é a crucificação.


Aquele que ama a Deus está morto para o mundo. “O mundo está crucificado para mim” (Gl. 6:14). Estou morto para as suas honras e seus prazeres. Aquele que está apaixonado por Deus, na verdade não está apaixonado por mais nada. O amor de Deus e o amor ardente do mundo são inconsistentes. “Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 Jo. 2:15). O amor a Deus engole todos os outros amores, assim como o cajado de Moisés (que se transformara em serpente) engoliu as serpentes egípcias. Se um homem pudesse viver no Sol, toda a terra seria como um pequeno ponto em sua visão. Assim também, quando o coração de um homem é elevado acima do mundo na admiração e no amor de Deus, quão pobres e escassas são as coisas do mundo abaixo! Para seus olhos, elas são como nada. Esse era um sinal de que os primeiros cristãos amavam a Deus: suas propriedade não estavam perto de seus corações, mas eles “depositavam aos pés dos apóstolos” (At. 4:35).


Teste seu amor a Deus com isso. O que devemos pensar daqueles que são insaciáveis em seu apetite pelo mundo? Eles têm a hidropisia da cobiça, insaciavelmente sedentos por riquezas: “Suspiram pelo pó da terra” (Am. 2:7). Nunca fale de seu amor a Cristo, diz Inácio, enquanto você preferir o mundo ao invés da Pérola de Grande Valor. Certamente, existem muitos desses, que valorizam seu ouro acima de Deus. Se eles têm uma propriedade na zona sul, não se importam com a água da vida. Eles venderão a Cristo e uma boa consciência por dinheiro. Será que Deus concederá o céu a esses que tanto O subestimam, preferindo pó brilhante ao invés da gloriosa Divindade? O que há na terra para que devamos colocar nossos corações sobre ela? Só o diabo nos faz vê-la como que através de uma lupa.


O mundo não tem valor intrínseco real, é apenas tinta e engano.

8. O próximo fruto do amor é o temor.


No piedoso, o amor e o temor se beijam. Existe um medo duplo que surge do amor.


(i.) Um medo de desagradar.

A esposa ama seu marido, portanto, vai preferir negar a si mesma do que desagradá-lo. Quanto mais amamos a Deus, mais temerosos ficamos de entristecer seu Espírito. “Como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?”(Gn. 39: 9). Quando Eudóxia, a imperatriz, ameaçou banir Crisóstomo, ele a respondeu: Diga a ela que não tenho medo de nada além de pecar. Esse é um amor bendito que coloca um cristão em um quente estado de zelo e um frio estado de medo, fazendo-o estremecer e tremer, e não ousar voluntariamente ofender a Deus.


(ii.) Um medo misturado com ciúmes.

“[O] coração [de Eli] estava tremendo pela arca de Deus”(1 Sm. 4: 13). Não é dito que seu coração tremia por Ofni e Finéias, seus dois filhos, mas seu coração tremia pela arca, porque se a arca fosse tomada, então a glória se partiria. Aquele que ama Deus está cheio de medo de que a igreja não adoeça. Ele teme que a profanação (que é a praga da lepra) aumente, que o papismo se levante novamente, para que Deus não saia do meio de Seu povo. A presença de Deus em Suas ordenanças é a beleza e a força de uma nação. Enquanto a presença de Deus estiver com um povo, eles estarão seguros; mas a alma inflamada com amor a Deus teme e receia que os símbolos visíveis da presença de Deus sejam removidos.


Por este critério vamos testar nosso amor a Deus. Muitos temem que a paz e o emprego sejam tirados, mas não se importam que Deus e Seu evangelho o sejam. São esses amantes de Deus? Aquele que ama Deus tem mais medo da perda das bênçãos espirituais do que das temporais. Se o Sol da justiça sair do nosso horizonte, o que pode vir adiante, senão pura escuridão? Que conforto pode dar um instrumento ou hino se o evangelho se foi? Não seria apenas como o som de uma trombeta ou uma salva de tiros em um funeral?


9. Se amamos a Deus, amaremos o que Deus ama.


(i.) Nós amamos a Palavra de Deus.

Davi estimava a Palavra, por sua doçura maior que do mel (Sl. 119:103), e por seu valor, acima do ouro (Sl. 119:72). As linhas das Escrituras são mais ricas do que as minas de ouro. Muito devemos amar a Palavra, ela é a estrela-guia que nos direciona para o céu, é o campo em que a Pérola está escondida. O homem que não ama a Palavra, mas a acha muito rigorosa e desejaria que qualquer parte da Bíblia fosse arrancada (como um adúltero fez com o sétimo mandamento), esse não tem a menor faísca de amor em seu coração.


(iii.) Nós amamos o Dia do Senhor.

Não só mantemos um sábado, mas amamos um sábado. “Se chamares ao sábado deleitoso” (Is. 58:13). O domingo é o que mantém o semblante da religião entre nós; este dia deve ser consagrado como glorioso para o Senhor. A casa de Deus é o palácio do grande Rei, e no domingo Deus mostra-se lá em sua varanda. Se amamos a Deus, valorizamos seu dia acima de todos os outros dias. Toda a semana seria escura se não fosse por este dia. Nele, o maná cai em dobro. No domingo (se em qualquer momento), o portão do céu está aberto, e Deus desce em uma chuva dourada. Neste dia abençoado, o Sol da justiça ergue-se sobre a alma. Um coração cheio de graça valoriza muito o dia que foi feito para podermos desfrutar de Deus.


(iv.) Nós amamos as leis de Deus.

Uma alma graciosa está feliz com a lei porque ela restringe seus excessos pecaminosos. O coração estaria pronto para descarrilar loucamente em pecado se não tivesse algumas benditas restrições colocadas sobre ele pela lei de Deus. Aquele que ama a Deus, ama Sua lei - a lei do arrependimento, a lei da auto-negação. Muitos dizem que amam a Deus, mas odeiam suas leis. “Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas” (Sl. 2:3). Os preceitos de Deus são comparados com cordas, eles ligam os homens ao seu bom comportamento. Mas, os ímpios pensam nessas cordas como muito apertadas, por isso dizem, vamos quebrá-las. Eles fingem amar a Cristo como um Salvador, mas o odeiam como Rei. Cristo nos fala de Seu jugo (Mt. 11:29). Tais pecadores gostariam que Cristo colocasse uma coroa em suas cabeças, mas não um jugo em seu pescoço. Seria um rei estranho aquele que governasse sem leis.


(v.) Nós amamos o retrato de Deus, amamos Sua imagem reluzindo nos crentes.

“Todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido” (1 Jo. 5:1). É possível amar um crente, mas não amá-lo como um santo; podemos amá-lo por outra coisa, por sua criatividade, ou porque ele é gentil e rico. Animais amam os homens, mas não como ele é por ser homem, mas apenas porque ele o alimenta e lhe dá provisão. Mas amar um crente por ser um santo, isso é um sinal de amor a Deus. Se amamos um crente por sua santidade, como tendo algo de Deus nele, então o amamos nessas quatro situações:


(a) Nós amamos um crente, embora ele seja pobre.

Um homem que ama ouro, ama um pedaço de ouro, embora esteja sobre trapos. Assim também, embora um santo esteja em trapos, nós o amamos, porque há algo de Cristo nele.

(b) Nós amamos um crente, embora ele tenha muitas falhas pessoais.

Não há perfeição aqui. Em alguns, a raiva precipitada prevalece; em outros, inconstância; e ainda outros, muito amor pelo mundo. Um santo nesta vida é como ouro no minério, muita impureza de enfermidade se apega a ele, mas nós o amamos pela graça que está nele. Um crente é como um belo rosto com uma cicatriz: amamos o belo rosto da santidade, embora haja uma cicatriz nele.

A melhor esmeralda tem suas manchas, as estrelas mais reluzentes, suas falhas em brilho; e os melhores dos santos têm suas falhas. Se você que não pode amar o outro por conta de suas enfermidades, como você quer que Deus te ame?

(c) Nós amamos os santos, embora em algumas coisas menores eles tenham diferenças conosco.

Talvez outro cristão não tenha tanta luz como você, e isso pode fazê-lo errar em algumas coisas. Você vai rebaixá-lo imediatamente de seu estado por ele não poder subir até sua luz? Onde há união nos fundamentos, deve haver união nos afetos.


(d) Nós amamos os santos, embora eles sejam perseguidos.

Nós amamos o metal precioso, embora esteja na fornalha. O apóstolo Paulo carregou em seu corpo as marcas do Senhor Jesus (Gl. 6:17). Essas marcas eram, como as cicatrizes do soldado, honrosas. Devemos amar o crente tanto em correntes quanto o amamos em escarlate. Se amamos a Cristo, amamos Seus membros perseguidos.


Se isso for amor a Deus, amarmos Sua imagem brilhando nos crentes, ó então, quão poucos podemos achar que realmente amam a Deus! Será que amam a Deus os que odeiam àqueles que são como Deus? Será que amam a pessoa de Cristo os que estão cheios de um espírito de vingança contra Seu povo? Como pode a esposa dizer que ama o marido se rasga seu retrato? Certamente Judas e Juliano ainda não estão mortos, seus espíritos ainda vivem no mundo. Quem são os culpados, senão os inocentes! Não haveria crime maior do que a santidade, se o diabo pudesse ser um dos jurados! Os homens perversos parecem ter grande reverência aos santos que partiram, até canonizam os santos mortos, mas perseguem os vivos. Em vão os homens se levantam para recitar o credo e dizer ao mundo que acreditam em Deus, quando abominam um dos artigos do credo: a comunhão de santos. Certamente, não há um sinal maior de um homem pronto para o inferno do que esse, não só ter a falta de graça, mas odiá-la.


10. Outro sinal bendito de amor é cultivar bons pensamentos sobre Deus.


Aquele que ama seu amigo constrói as obras de seu amigo, no melhor sentido. “O amor (...) não suspeita mal”(1 Co. 13:5). A malícia interpreta tudo em seu pior sentido; o amor interpreta tudo no melhor sentido. Ele é um excelente comentarista sobre a providência; ele não suspeita mal. Aquele que ama a Deus, tem uma boa opinião sobre Deus; embora Ele a aflija bruscamente, a alma leva tudo de uma boa maneira. Esta é a linguagem de um espírito cheio de graça: “Meu Deus vê o coração duro que tenho, portanto Ele me lança em uma navalha de aflição após a outra, para partir meu coração. Ele sabe como estou cheio de maus humores, como estou doente nos pulmões, portanto Ele me deixa sangrar, para salvar minha vida. Esta severa disposição é para mortificar alguma corrupção, ou para exercitar alguma graça. Como Deus é bom, que não me deixa sozinho em meus pecados, mas abate meu corpo para salvar minha alma!” É assim que a pessoa que ama Deus recebe tudo de bom grado. O amor coloca um brilho sincero em todas as ações de Deus. Você que está disposto a murmurar de Deus, como se Ele tivesse agido mal para com você, seja humilhado por isso; diga assim consigo mesmo: “Se eu amasse mais a Deus, eu teria pensamentos melhores acerca de Deus.” É Satanás quem nos faz ter bons pensamentos sobre nós mesmos e pensamentos ásperos sobre Deus. O amor recebe tudo no sentido mais belo; ele não suspeita mal.


11. Outro fruto do amor é a obediência.


“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama” (Jo. 14:21). É vão dizermos que amamos a pessoa de Cristo, se desprezarmos suas ordens. Será que a criança ama seu pai, se ela recusa-se a obedecê-lo? Se amamos Deus, o obedeceremos nessas coisas que exigem nossa carne e sangue: (i.) Em coisas difíceis, e (ii.) Em coisas perigosas.


(i.) Nas coisas difíceis.

Como, na mortificação do pecado. Há alguns pecados que são tão queridos a nós como nossas roupas, outros tanto quanto nossos olhos. Se amamos Deus, nos colocaremos contra eles, tanto no propósito quanto na prática. Também, no perdoar nossos inimigos. Deus nos ordena, sob pena de morte, a perdoar. “[Sede benignos] perdoando-vos uns aos outros”(Ef. 4: 32). Isso é difícil. É atravessar o córrego. Somos inclinados a esquecer as gentilezas e lembrar-nos das injúrias. Mas, se amamos a Deus, suportaremos as ofensas.


Quando consideramos seriamente quantos talentos Deus nos perdoou, quantas afrontas e provocações Ele aturou em nossas mãos; isso nos faz imitá-lo e esforçar-nos a enterrar uma lesão ao invés de promover retaliação.

(ii.) Em coisas perigosas.

Quando Deus nos chama para sofrer por Ele, devemos obedecer. O amor fez Cristo sofrer por nós, o amor foi a corrente que o prendeu à cruz. Então, se amamos a Deus, estaremos dispostos a sofrer por Ele. O amor tem uma qualidade estranha, é a graça menos tolerante, e ainda assim é a graça mais tolerante. É a graça menos tolerante em um sentido. Ele não tolera o pecado conhecido, sem arrependimento, na alma e não suporta abusos e desonras feitas a Deus, portanto, é a graça menos tolerante. Ainda assim, é a graça mais tolerante. Ele sofrerá reprovações, laços e prisões, pela causa de Cristo. “Estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (At. 21:13). É verdade que nem todo cristão é um mártir, mas o cristão tem o espírito de martírio dentro de si. Ele diz como Paulo, “Estou pronto para ser preso”. Ele tem uma disposição mental para sofrer, se Deus chamar. O amor levará os homens além de suas próprias forças. Tertuliano nota o quanto os pagãos sofreram por amor ao seu país. Se a cabeça da natureza sobe tão alto, certamente a graça sobe ainda mais. Se o amor ao seu país fará os homens sofrerem, muito mais deve fazê-lo o amor a Cristo. “[O amor] tudo suporta” (1 Co. 13:7). Basílio descreve a situação de uma virgem condenada ao fogo, que mediante a oferta de ter sua vida e bens se ela se prostrasse ao ídolo, respondeu: “Que a vida e o dinheiro vão embora, que Cristo venha a mim.” Foi um discurso nobre e zeloso de Inácio: “Deixe-me ser moído com os dentes de animais selvagens, se eu puder ser o trigo puro de Deus.” Como o afeto divino transportou os primeiros santos muito acima do amor da vida e do medo da morte! Estêvão foi apedrejado, Lucas pendurado em uma oliveira, Pedro crucificado em Jerusalém com a cabeça para baixo. Estes heróis divinos estavam dispostos a sofrer, em vez de, por sua covardia, fazerem o nome de Deus sofrer. Como Paulo valorizou as cadeias que ele carregava por causa Cristo! Ele gloriou-se nelas, como uma mulher que está orgulhosa de suas joias, diz Crisóstomo. E o santo Inácio usava seus grilhões como um bracelete de diamantes. “Não aceitando seu resgate” (Hb. 11:35). Eles se recusaram a sair da prisão sob termos pecaminosos, preferiram sua inocência acima de sua liberdade.


Com esse critério, vamos testar nosso amor a Deus. Temos o espírito do martírio? Muitos dizem que amam a Deus, mas como isso se mostra? Eles não renunciarão ao menor conforto, ou passarão pela menor cruz por Sua causa. Se Jesus Cristo nos tivesse dito: “Eu os amo muito, vocês são queridos por mim, mas eu não posso sofrer, não posso dar minha vida por vocês”, deveríamos ter questionado muito o Seu amor. Será que Cristo não pode suspeitar de nós, quando fingimos amá-lo, e ainda assim não estamos dispostos a suportar nada por Ele?


12. Aquele que ama a Deus se esforçará para torná-Lo glorioso aos olhos dos outros.


Aqueles que estão apaixonados estão sempre elogiando e descrevendo a amabilidade das pessoas que amam. Se amarmos a Deus, vamos espalhar adiante Suas excelências para que possamos elevar Sua fama e renome, e podermos induzir outros a se apaixonarem por Ele. O amor não pode ficar em silêncio. Seremos como tantas trombetas, soando a liberdade da graça de Deus, a transcendência de Seu amor e a glória de Seu reino. O amor é como o fogo: onde ele queima no coração, ele exala nos lábios. Ele será elegante ao expor o louvor de Deus: a fornalha do amor deve ter ventilação.


13. Outro fruto do amor é ansiar pelo retorno de Cristo.


“Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.” (2 Tm. 4:8). O amor deseja união. Aristóteles nos dá a explicação: porque a alegria flui sobre a união. Quando nossa união com Cristo for perfeita em glória, então nossa alegria estará completa. Aquele que ama a Cristo, ama Sua vinda. A vinda de Cristo será uma feliz aparição para os santos. Sua aparição agora é muito reconfortante, quando Ele aparece por nós como um Advogado (Hb. 9:24). Mas a outra aparição será infinitamente mais, quando Ele aparecer por nós como nosso Marido. Naquele dia, ele nos concederá duas joias. Seu amor. Um amor tão grande e surpreendente, que é melhor sentido do que expresso. E Sua semelhança. “Quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele” (1 Jo. 3:2). E de ambas, o amor e a semelhança, a alegria infinita fluirá para a alma. Não é à toa que aquele que ama a Cristo anseia por Sua vinda. “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap. 22: 17, 20). Com isso, vamos testar nosso amor a Cristo. Um homem ímpio que já se auto-condena, tem medo da aparição de Cristo e deseja que Ele nunca apareça. Mas, aqueles que amam a Cristo são cheios de alegria ao pensar em Sua vinda nas nuvens. Eles serão então libertados de todos os seus pecados e medos, serão absolvidos perante homens e anjos, e serão para sempre transladados para o paraíso de Deus.


14. O amor nos fará descer aos serviços mais humildes.


O amor é uma graça humilde, não sai andando com pompa, ele arregaça suas mangas, ele se inclina e se submete a qualquer coisa em que possa ser útil a Cristo. Vemos isso em José de Arimatéia e Nicodemos, ambos eram pessoas honradas, mas uma retira o corpo de Cristo da cruz com suas próprias mãos, e o outro o embalsama com doce perfume. Pode parecer muito para as pessoas de sua estirpe serem empregadas nesse serviço, mas o amor as fez fazer isso. Se amamos a Deus, não pensaremos em nenhum trabalho como muito simplório para nós, pelo qual podemos ser úteis aos membros de Cristo. O amor não é medroso; ele vai visitar os doentes, alentar os pobres, lavar as feridas dos santos. A mãe que ama seu filho não é receosa e tímida; ela vai fazer coisas por seu filho que outros desprezariam fazer. Aquele que ama a Deus se humilhará ao pior cargo por amor a Cristo e seus membros.


Estes são os frutos do amor a Deus. Felizes são aqueles que podem encontrar esses frutos, tão estranhos à sua natureza, crescendo em suas almas.

(Esse texto foi extraído do livro "Tudo para o seu Bem: O Remédio de Deus em Romanos 8:28" de Thomas Watson. Você pode adquirir o livro aqui.)



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