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Clamando a Deus em Oração

Foto do escritor: Vaneetha Rendall RisnerVaneetha Rendall Risner

Por Vaneetha Rendall Risner



Não gosto de lamentar. Parece pouco espiritual.


Cristãos fiéis são equilibrados e alegres. Eles se alegram no Senhor o tempo todo. Sem sequer uma pitada de desânimo. Mesmo em circunstâncias difíceis, eles são inabaláveis. Nada os derruba. Ou pelo menos, é o que eu sempre disse a mim mesma.


Mas quando a vida desmorona, acho quase impossível me alegrar. Em vez disso, me pergunto por que Deus está permitindo mais uma provação na minha vida. Até duvido do amor de Deus por mim. Sinto-me triste por tudo que perdi e insatisfeita com o que ganhei no lugar. Eu me pergunto se a vida vai melhorar. Ou se Deus me abandonou indefinidamente.


Quando a Vida Pára de Fazer Sentido

Eu costumava responder refocando ativamente minha mente, determinada a ter uma atitude positiva. Mas fazê-lo me deixou ainda mais vazia e infeliz do que antes. Então percebi que as Escrituras nunca mandam que constantemente agíssemos como otimistas. Deus quer que venhamos até ele em verdade. E assim a Bíblia não ameniza as emoções cruas de seus escritores enquanto clamam a Deus em angústia, medo e frustração quando a vida deixa de fazer sentido. Pessoas como Jeremias e Jó, Habacuque e Davi derramaram seus sentimentos honestos de tristeza e decepção com Deus.


• Jeremias protesta a Deus: “Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e não admite cura? Serias tu para mim como ilusório ribeiro, como águas que enganam?” ( Jr 15:18)


• Jó reclama: “Por isso, não reprimirei a boca, falarei na angústia do meu espírito, queixar-me-ei na amargura da minha alma. (...) Então, me espantas com sonhos e com visões me assombras; pelo que a minha alma escolheria, antes, ser estrangulada; antes, a morte do que esta tortura. Estou farto da minha vida.” (Jó 7:11, 14-16)


• Habacuque lamenta: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás?” (Hb 1:2)


• Davi lamenta ao longo dos Salmos, nos dando um modelo de autenticidade com Deus. No Salmo 13:1-2 ele grita: “Até quando, Senhor? Esquecerte-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia?”. No Salmo 22:1-2, ele lamenta: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego”.


A Bíblia é chocantemente honesta. E por causa disso, posso ser honesta também. Posso reclamar e chorar, sabendo que Deus pode lidar com qualquer coisa que eu disser. O Senhor quer que eu fale com ele, derrame meu coração e meus pensamentos puros porque ele já os conhece.


Navegando pelo Luto

Esta conversa é diferente da murmuração dos filhos de Israel. Eles reclamaram de Deus e Moisés um para o outro. Eu estou falando diretamente com Deus. Contando minhas dúvidas. Pedindo que ele me ajudasse a ver. Esses santos que citei conversaram diretamente com Deus, que foi o primeiro passo para a cura. Eles deram nome a suas decepções e expressaram suas lutas diante dele. Eles precisavam saber que Deus os entendia. E que eles poderiam ser sinceros com ele. Sem pretensões ou platitudes. Apenas honestidade crua, reconhecendo sua dor diante de Deus.


Esse processo foi essencial para navegar em seu luto. E é para mim também. Quando não reconheço minha dor, meus lábios podem dizer uma coisa, mas meu coração diz outra. Começo a criar uma muralha em meu coração para que possa evocar alegria. Mas essas paredes me deixam anestesiada para a emoção real, incapaz de experimentar prazer ou dor. Minha vida se torna aplanada e começo a existir sem realmente viver.


Parte da vida real é estar disposto a enfrentar a tristeza. Não chafurdando na minha dor e me recusando a ser consolada, mas honesta e abertamente dizendo a Deus onde estou e pedindo-lhe para me mostrar a verdade. Deixando que ele, o Deus de todo o consolo, me console. Deixando que ele, o Deus da esperança, me encha de esperança. E deixando ele, o homem de dores e que sabe o que é padecer, suportar minhas tristezas em meu lugar.


Um Lugar Mais Profundo

Derramar meu coração diante de Deus me transforma. Como meus companheiros bíblicos Davi, Habacuque, Jó e Jeremias, só posso experimentar a verdadeira alegria depois de reconhecer minha tristeza. E quando o faço, me encontro em um lugar mais profundo com o Senhor, que me ajuda a ver minhas decepções e dor sob uma nova perspectiva.


Davi, em última análise, diz nesses salmos de lamento: “Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem” (Sl 13:6) e “Os sofredores hão de comer e fartar-se; louvarão o Senhor os que o buscam. Viva para sempre o vosso coração” (Sl 22:26).


Habacuque reconhece que sua esperança está apenas em Deus, quando declara: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide, ... todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação” (Hb 3:17-18).


Jó admite após seu encontro com Deus: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42:2).


E Jeremias vê que confiar em nosso Deus infalível nos muda como ele afirma: “Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor” (Jr 17:7).


A verdade que emerge de nossos lábios depois de lamentarmos com o Senhor é infundida por Deus. Aprendemos a confiar em Deus mesmo quando não podemos entender nossas próprias dores no peito. Vi isso sendo demonstrado em minha própria vida várias e várias vezes. É mais evidente em meus diários, onde expresso, sem vergonha, meus sentimentos mais profundos a Deus. Os alegres louvores com orações de ação de graças. As amargas decepções misturadas com raiva e dúvida. Já perguntei a Deus por que ele não me ama, e ouvi-o sussurrar pelas Escrituras que ele me amou com um amor eterno.


Enquanto escrevo e oro, sinto o mover dele em minha vida. Ele me conforta. Me enche de esperança. Suporta minhas aflições.


Não há problema em lamentar. É bíblico. E quando eu derramo meu coração diante de Deus em oração, ele não me repreende. Em vez disso, ele me cerca. Ele firma meus pés em uma rocha. Ele se torna “o meu escudo, a minha glória e o que exaltas a minha cabeça” (Sl 3:3).


 

(Esse texto é um capítulo e foi extraído do livro "As Cicatrizes que Me Moldaram" de Vaneetha Rendall Risner. Você pode comprar o livro aqui. )

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