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As Cicatrizes que me Moldaram

Foto do escritor: Vaneetha Rendall RisnerVaneetha Rendall Risner

Por Vaneetha Rendall Risner


Por muito tempo, desprezei minhas cicatrizes.

Passei a maior parte da minha vida escondendo-as, mantendo minhas pernas cobertas o máximo possível. Minhas cicatrizes me disseram que eu não era como todo mundo. Disseram-me que não era atraente, que era uma estranheza, um tipo de aberração. Algumas pessoas se orgulham de suas cicatrizes; elas comunicam coragem. Elas mostram aos outros o que eles suportaram. Carregam consigo histórias de bravura e aventura.


Mas para mim, com cicatrizes cobrindo as duas pernas, não eram medalhas para exibição, proclamando minha bravura. Eram, pelo contrário, deficiências para esconder, lembrando-me diariamente das minhas falhas — lembrando-me que eu estava danificada.


Na adolescência, eu queria desesperadamente um corpo perfeito, esperando que um corpo perfeito me fizesse sentir aceita. Em vez disso, vi no espelho um corpo deformado pela poliomielite e ainda marcado pelas 21 operações que vieram a seguir. Em um mundo repleto de imagens computadorizadas de modelos impecáveis, era um desafio acreditar que minhas imperfeições físicas eram belas.


Então esconder minhas cicatrizes era natural. Dessa maneira, ninguém podia ver como eu era imperfeita. Dessa maneira, poderia parecer mais normal. Dessa maneira, não seria humilhada. Minhas cicatrizes eram simplesmente lembretes informes da minha dor.

Eu odiava ir à piscina, ou à praia, ou a qualquer lugar em que minhas pernas pudessem ser vistas. Mesmo que ninguém olhasse abertamente, imaginava que todos eram repelidos pelas minhas cicatrizes. Presumia que se eles vissem o meu verdadeiro eu, não seria aceita. Estava convencida de que minhas cicatrizes me deixavam feia.


Quando Cicatrizes Comunicam

Por pouco tempo, uma amiga próxima do colégio me convenceu a mostrar minhas pernas na praia. Ela disse que minhas cicatrizes podem ser feias para mim, mas para todos os outros, elas representavam força e coragem. Para todos os outros, revelavam o que eu tinha suportado apenas para andar. Para todos os outros, eles eram apenas parte do que eu tinha passado. E por um tempo, mostrei minhas pernas, mas eu lentamente voltei a cobri-las. Era mais fácil assim.


Voltei a acreditar nas mentiras que tinha contado a mim mesma: eu era mais valiosa se ninguém pudesse ver minhas cicatrizes.


Escondi minhas marcas de ferimentos e me senti confortável fazendo isso por décadas. Mas um dia, notei isso no Evangelho de João: “Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor” (Jo 20:19b-20).


Os discípulos reconheceram Jesus quando viram suas cicatrizes. E Tomé precisava sentir as feridas dos pregos no Senhor para verificar se o Salvador ressurreto estava diante dele. Jesus não precisava ter cicatrizes em seu corpo ressurreto. Seu corpo poderia ter sido perfeito, impecável, sem cicatrizes. Mas ele escolheu manter suas cicatrizes para que seus discípulos pudessem validar sua identidade. E ainda mais importante, para que pudessem ter certeza de que ele tinha conquistado a morte.


A canção de Michael Card, “Known by the Scars” (Conhecido pelas Cicatrizes), expressa essa verdade muito lindamente.


As marcas da morte que Deus escolheu nunca apagar
As feridas da guerra eterna do amor
Quando o reino vier com seus filhos aperfeiçoados
Ele será conhecido pelas cicatrizes[1]

Deus escolheu não apagar essas marcas de morte — as feridas de seu amor por nós — para que nosso Salvador sempre seja conhecido por suas cicatrizes. Em vez de imperfeições físicas, as cicatrizes de Jesus são incrivelmente belas. Elas representam seu amor e nossa salvação.


Os Lugares Onde Fui Curada

Ao passo que considerava essas verdades, algo despertou em mim. Minhas cicatrizes são significativas e preciosas. Não deveria continuar a escondê-las. Sou reconhecida por elas; elas me fazem única. Elas são parte integral de quem eu sou. Elas mostram que, através de Cristo, sou uma conquistadora — que sofri e, pelo poder do Espírito Santo, superei. Minhas cicatrizes me lembram que Deus é suficiente e que a perfeição física não é nosso objetivo. Uma vida vivida para a glória de Deus é infinitamente mais valiosa.


As cicatrizes representam mais do que eu jamais imaginei. Elas podem ser belas. O dicionário diz que “uma cicatriz é uma marca deixada por uma ferida curada”[2]. Uma ferida curada. Minhas cicatrizes significam cura. E mesmo que minhas feridas carnais iniciais tenham sarado, ainda há uma cura mais profunda na aceitação.


Comecei a notar cicatrizes mais à medida que olhava em minha volta. Havia algo cativante sobre as pessoas que não tinham medo de serem elas mesmas: autênticas, desmascaradas e sem vergonha das feridas que as moldavam. Sua vulnerabilidade era magnética. Era atraída a elas. Para aprender com sua auto-aceitação. Ouvir suas histórias. Ver sua coragem.


Aprendi que muitas vezes é bom perguntar às pessoas sobre suas cicatrizes. Contanto que eu faça isso respeitosamente. E amorosamente. Perguntar desmistifica as cicatrizes e permite que as pessoas compartilhem sobre aquilo que as moldou. Porque todas as cicatrizes têm uma história.


Eu percebi que quando mostramos nossas cicatrizes, inspiramos outros a fazerem o mesmo.


Aqueles de nós com cicatrizes devem vesti-las como joias, lembretes preciosos do que temos sofrido. Não há problema em mostrar nossas imperfeições. É até corajoso. E talvez descubramos a beleza em nossas cicatrizes.


 

(Esse texto é um capítulo e foi extraído do livro "As Cicatrizes que Me Moldaram" de Vaneetha Rendall Risner. Você pode comprar o livro aqui. )

[1] Michael Card, “Known by the Scars,” em Known by the Scars, Sparrow Records, 1983. [2]“Scar,” Dictionary.com. http://www.dictionary.com/ browse/scar. Acessado em 21 de Junho de 2016.

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