Por Tony Reinke
Em seu livro clássico, Cristianismo Puro e Simples, o ex-ateu C. S. Lewis oferece uma visão profunda da máquina psicológica que puxa todo o trem da experiência humana: “Tudo o que chamamos de história humana – dinheiro, pobreza, ambição, guerra, prostituição, classes, impérios, escravidão – a longa e terrível história do homem tentando encontrar algo diferente de Deus que o fará feliz”.[1]
Simplificando, o motivo principal da história é o desejo de felicidade. Todos os pecados – da escravidão à prostituição, ao racismo, ao terrorismo, à extorsão e às faíscas que acendem as guerras mundiais – são motivados pelo desejo de felicidade à parte de Deus.
Resumindo em uma frase, Lewis enfia uma sonda dental de aço no nervo bruto e sem anestésicos do ateísmo. Mas o maior perigo que enfrentamos não é o ateísmo intelectual – negando que Deus existe. Nosso problema mais desesperador é o ateísmo afetivo — recusar-se a acreditar que Deus é o objeto de nossa maior e mais duradoura alegria. Este é o coração da nossa tolice. O tolo fala das profundezas de seus afetos e anseios e declara: Deus é irrelevante.[2]
Este ateísmo afetivo contagia todos os corações, mesmo os mais religiosos.
Ateus até os Ossos
Como mostram as lições da história, esse tipo de câncer de coração espalha a decadência social e a eventual ruína. O problema com o mundo não é a presença de ateus intelectuais, mas a disseminação de corações caídos que se afastam de Deus. Se pudéssemos ver nossos motivos com clareza, veríamos nossos pecados com forte contraste. Nascemos com a tentação de buscar alegria fora de Deus, e essa aflição afeta todos ao nosso redor.[3]
O que acontece quando buscamos alegria sem Deus? Nós oprimimos. Pisamos em pés alheios. Ferimos e ofendemos. Por sua vez, somos agredidos; outros ateus egocêntricos buscam sua própria felicidade pessoal às nossas custas. Acredite: se você não usar alguém primeiro, logo será usado.
Tragicamente, esses desejos egoístas muitas vezes atraem as pessoas umas às outras, levando a uma colisão inevitável. Todos nós já vimos isso acontecer no mundo real. Na busca pela alegria, um homem solteiro que idolatra o sexo é motivado a namorar. À procura da alegria, uma mulher solteira que idolatra a atenção dos homens para elevar seu senso de autoestima é motivada a namorar. Eles se encontram. A princípio os prazeres parecem satisfatórios, mas eles mal compreendem como a união superficial e as alegrias fugazes mascaram a malícia por baixo. Por um momento, custa ao homem seu tempo, atenção e dinheiro. Custa à mulher a vulnerabilidade de seu corpo. Mas parece haver uma calorosa aura de amor, a gratificação de desejos pessoais e o florescimento de um relacionamento permanentemente satisfatório.
Mas os corações idólatras são coisas famintas, nunca satisfeitas. Eventualmente, os olhos do homem são atraídos para a mulher no bar e retirados dessa mulher do outro lado da mesa. As gentilezas do homem serão eventualmente expostas pelo que são: ofertas não-heroicas e não-masculinas, apenas trocados do bolso de sua alma. E, espantosamente, o corpo da mulher será posto de lado como mero instrumento grosseiro para satisfazer o apetite ímpio de um homem. Sob esse fino verniz de “amor” está um relacionamento entre dois pecadores, dois pecadores isolados, dois ateus cujas afeições estão desconectadas de Deus e que usam um ao outro em uma tentativa fútil de preencher a lacuna. Vai acabar em guerra.
Clube de Luta
Exploramos uns aos outros em nossa busca pela felicidade pessoal e acabamos com um conflito pessoal vicioso. Tiago 4:1–12 nos ajuda a entender por que isso acontece, perguntando-nos à queima-roupa: O que causa contendas e brigas em nossa vida? O que alimenta as chamas da raiva, amargura e ira em nossos corações? A resposta não é complicada, mas é profunda. Nós guerreamos uns contra os outros porque lutamos por alegrias sem Deus. Nós idolatramos os prazeres que achamos que irão satisfazer nossas almas – sexo, poder, riqueza, fama, segurança mundana, conforto, você escolhe – mas não os obtemos, eles escapam de nossas garras, e assim nós cobiçamos. Nós usamos. Nós somos usados. Buscamos nosso valor na superioridade e pisamos em outros no processo.
Decolamos em altos emocionais e despencamos em baixos depressivos porque valorizamos nossa auto-estima percebida mais do que o desígnio de Deus. Em nosso orgulho, nos tornamos inimigos uns dos outros porque nos tornamos inimigos de Deus. Nós o rejeitamos. Ele rejeita nossa rebelião. Rejeitamos as abundantes provisões de Deus. Tornamo-nos vazios, usamos os outros e cortamos uns aos outros. Bem-vindo ao clube de luta.
A realidade é gritante, e o problema é universal. O puritano Richard Sibbes resume nossa trágica situação: “Antes que o coração seja mudado, nosso julgamento é depravado em relação ao nosso propósito final; buscamos nossa felicidade onde ela não pode ser encontrada”.[4] A afeição deslocada é a raiz do problema por trás de todo conflito.
Preocupados com os riachos, estamos cegos para a fonte da alegria. Rejeitamos a Deus. Cegos para a beleza de Deus e aos seus prazeres, procuramos nos satisfazer com os prazeres da carne que são triviais demais para satisfazer as almas famintas. Banqueteando-se apenas com a criação como fonte de alegria, nossos corações murcharam e morreram.
Nascidos com um apetite pelo eterno, estamos famintos por alegria permanente.
Olhe à sua volta. Todo mundo está correndo atrás de algo. Esse é o ponto de Lewis e Tiago e Sibbes. Quer saibamos ou admitamos, todos corremos atrás de um fim. Nosso fimé nosso bem principal, a melhor coisa que trabalhamos para obter, aquele objetivo para o qual usaremos tudo nesta vida para alcançar. Meu “fim último” é o que eu determinar ser meu maior tesouro, ou o que achar que me fará mais feliz em possuir. Sexo ou atenção ou independência ou poder ou fama ou riqueza ou conforto: cada um desses fins últimos expõe o ateísmo prático de nossos corações. Assim, o puritano Richard Baxter pode dizer: “A parte principal da corrupção do homem consiste em um bem principal errado, um tesouro errado, uma segurança errada”.[5]
Estudantes perspicazes da alma humana sabem que a pergunta que todos devemos enfrentar é muito profunda: Qual é a coisa singular sem a qual não posso viver?
Essa pergunta destrói fachadas e expõe o pecado. O pecado não é meramente uma ação errada; pecado é essencialmente adoração errada. O pecado é a fixação de nossos corações em qualquer bem, tesouro ou segurança na vida que substitui o bem, tesouro e segurança de Deus. Esta é a principal questão de nossas vidas. Este é o principal fator determinante de nossa alegria. Este é o passo em falso que nos envia para a toca do coelho, onde nos encontramos ateus perdidos no âmago mais profundo do nosso ser.
Olhos Vorazes
Voltaremos a essa dinâmica em vários pontos ao longo da história. Por enquanto, devemos enxergar nossa cegueira natural para a beleza abundante de Deus. Nossos olhos vagantes se voltam de um ídolo para outro, se arregalam a cada nova iguaria e se banqueteiam com um bufê de adultério espiritual. João Calvino explica como isso funciona no contexto da infidelidade física: “Os adúlteros, por seus olhares errantes, geram as chamas da luxúria e, assim, seu coração é incendiado”.[6] O coração é seduzido por olhos errantes — luxúria dos olhos.[7] Profissionais de marketing perspicazes sabem como isso funciona. Pegue qualquer nova tecnologia digital (como um novo smartphone), flutue-a no ar diante de nossos olhos, dê-nos uma longa olhada no alumínio bem torneado e no rosto de vidro impecável, e imediatamente nos sentiremos atraídos por ela.
Os celulares não são pecaminosos, mas quando ignoramos a beleza do Deus invisível, adoramos apenas o mundo visível. O que vemos ao nosso redor é o que caçamos, e o que caçamos alimenta o desejo pelo que desejamos ver. Uma nova tecnologia apenas gera novos desejos por tecnologias ainda mais novas para controlar nossas vidas. Este ciclo fútil nunca é quebrado, porque nossos olhos nunca estão satisfeitos (Pv 27:20).
Esse vaidoso apetite por inovação também explica por que os ídolos assumem muitas formas diferentes em cada século ou cultura. Os ídolos aparecem em forma de madeira esculpida em um poste sagrado, ouro moldado em um bezerro, marfim formado em uma estatueta, papelão impresso em um bilhete de loteria, uma capa de revista brilhante publicada com uma imagem retocada de uma modelo, ou um pedaço de metal e vidro reunidos em um celular novo e atraente.
A longa trajetória da situação humana é como um alpinista, olhos examinando para encontrar o próximo apoio visível, tateando por algo novo para satisfazer nossos corações. A cada novo apoio, aumentamos a chama da luxúria em nossos corações, impulsionando-nos para o cume da satisfação sem Deus. Mas o cume é falso e a subida é inútil. O fim nunca chega porque o objetivo estava errado desde o início – era a montanha errada. E o tempo todo, a cada passo, apenas aumentamos a altura da qual eventualmente cairemos.
Mas nossos corações tolos continuam fazendo isso. Continuamos voltando aos nossos vícios para encontrarmos nosso sentido e valor. De novo e de novo cometemos esse erro trágico. Tornamo-nos viciados em ídolos.
Viciados em Ídolos
Conheça Joelle van Dyne. Joelle é uma jovem que esconde o rosto atrás de um véu. Por que ela faz isso, não sabemos. Talvez ela tenha sido desfigurada em um acidente de infância, ou talvez, como ela afirma, sua beleza impressionante lança um feitiço irresistível sobre os homens em sua vida. Mas o que sabemos é que Joelle, escondida atrás de seu véu, é uma personagem intensa no grande romance de David Foster Wallace, Infinite Jest.
Joelle parte em uma busca ambiciosa para obter a felicidade, e aparentemente seu véu a protege na busca. Tateando em busca de prazer, Joelle se volta para a cocaína de base livre, e lá encontra uma experiência explosiva que, em um momento, “liberta e condensa, comprime toda a experiência à implosão de um terrível pico estilhaçador no gráfico, um orgasmo afobado do coração que a faz sentir-se, verdadeiramente, atraente, abrigada por limites, desvelada e amada, observada e sozinha e suficiente e feminina, plena, como se vigiada por um instante por Deus”.[8] No seu anseio, ela descobre na cocaína uma experiência fugaz de sentido, amor e valor. Mas a sensação é um vapor.
Como a cocaína de Joelle, nossos vícios de pecado são alucinações prazerosas. A forma de nossos vícios pode ser mais socialmente aceitável: apostar, jogar, comer, fazer compras ou buscar elogios de nossos colegas. Mas a atração por trás de cada vício é a mesma.
Recorremos a um substituto de Deus para encontrar nossa alegria, nossa segurança, nossa esperança e nossa aprovação. Temos um momento de gratificação, um leve vislumbre do que deve ser a sensação de estarmos belos na presença de Deus. Mas tal sentimento é uma alucinação. Nossos ídolos não têm mãos para nos abraçar, nem olhos para nos ver, nem bocas para nos garantir segurança, nem ouvidos para nos ouvir. Em vez disso, nós que os adoramos nos tornamos como eles: cegos, mudos, surdos e impotentes.[9] “Descendo” de nossa euforia, devemos lutar novamente contra a ansiedade, a paranóia e a percepção sombria de que mais uma vez não escapamos de nós mesmos. Não somos mais amados. Não estamos mais satisfeitos. Estamos apenas condenados a repetir este episódio de autodestruição.
Nossos Ídolos e os Outros
Por um lado, esta é uma tragédia pessoal. Ao pecar, nos diminuímos. O pecado distorce qualquer bem remanescente dentro de nós, e a idolatria rouba nossa identidade. Estamos sempre nos tornando aquilo que adoramos.[10] E isso significa que estamos sempre nos desfazendo do nosso verdadeiro eu.[11]
Essa trágica degeneração de nós mesmos passa quase despercebida, disse Søren Kierkegaard. “O maior risco de todos, perder o eu, pode ocorrer muito silenciosamente no mundo, como se não fosse nada. Nenhuma outra perda pode ocorrer tão silenciosamente; qualquer outra perda — um braço, uma perna, cinco dólares, uma esposa, etc. — certamente será notada”.[12]
Nossos ídolos deformam nossa alma como as drogas alteram as características faciais de um viciado em metanfetamina. Mas, ao contrário de um rosto devastado por drogas, cuja degeneração pode ser capturada por fotos de lapso de tempo, não vemos as mudanças drásticas em nossa alma de forma tão descarada. Mas essa distorção da alma aflige todo aquele que segue os prazeres do pecado.
Por outro lado, a idolatria nunca é uma tragédia isolada. Prazeres viciantes corroem nossos relacionamentos, nossas famílias e nossas comunidades. Ingenuamente pensamos que nossos ídolos pessoais do tamanho de uma mão são nosso negócio particular, quando na verdade eles emitem uma rajada de radiação, muitas vezes invisível, que emana de nós através da vida de inúmeras outras pessoas ao nosso redor. A radiação de nossa idolatria é muitas vezes invisível, assim como as cicatrizes que ela deixa para trás. Os ídolos aos quais nos apegamos (em nossa busca por amor, valor e segurança) determinam como avaliamos e tratamos os outros.
Acabamos medindo o valor dos outros pelos ídolos que adoramos. Nós idolatramos aqueles que queremos nos tornar. Tornamo-nos tão egocêntricos que só podemos invejar aqueles que são superiores a nós e projetar ciúmes para nossos rivais. Nós nos desprezamos sob aqueles que colocamos acima de nós; orgulhamo-nos daqueles que colocamos abaixo de nós. Tratamos os outros de maneira dura e desumana. As pessoas são nossos concorrentes e nossos peões. Nossos ídolos duros e frios nos tornam pessoas duras e frias. Mas, embora estejamos terrivelmente sozinhos, todos sabemos por experiência que esse tipo de espírito negativo e crítico se espalha de pessoa para pessoa como chamas em uma floresta seca.
Os ídolos pessoais nos desumanizam. Eles nos deformam. E eles pervertem nossa avaliação dos outros e corroem nossos relacionamentos. O ídolo do sexo nos leva a objetificar os corpos dos belos e a evitar o que não é atraente. O ídolo da riqueza nos leva a objetificar os ricos e evitar os pobres. O ídolo da habilidade física nos leva a objetificar os atletas e evitar o desajeitado. E assim por diante, continuamos em nossos relacionamentos com as pessoas ao nosso redor. Julgamos os outros com base em nosso panteão de falsos deuses.
Separados de nosso verdadeiro eu, somos uma massa de confusão. Buscamos a felicidade mentindo para nós mesmos, vemos o mundo através das lentes oblíquas de nosso próprio senso pervertido de autoestima e confundimos e atropelamos todos os outros ao longo do caminho. Se o pecado é o veneno da nossa alegria, é também a dose letal que lançamos no poço da comunidade.
Totalmente Depravados
Se imaginarmos uma alma morta tateando em busca de satisfação onde o prazer duradouro não pode ser encontrado, e usando outros no processo, então imaginamos com precisão o que é chamado de “depravação total”. Esta é a primeira letra da sigla TULIP, o primeiro ato sombrio no drama do Projeto da Alegria escrito por Deus.
A depravação total não significa que somos todos agentes do mal absoluto. Você e eu não somos Adolf Hitlers que promovem o genocídio, condenam humanos a câmaras de gás ou vivem sob o ritmo da crueldade demoníaca. Mas em nossa natureza humana caída, todos nós somos corrompidos por desejos malignos. Nossas mentes, nossas vontades, nossas afeições, nossas imaginações — nenhum pedaço de nossa identidade escapa à perversidade ímpia de nossa raça caída. Assim, embora não sejamos todos déspotas perversos que jogam corpos na fornalha, jogamos a reputação dos outros na fornalha da calúnia. Falamos pelas costas e difamamos nossos vizinhos. Nós obtemos um prazer perturbador com os fracassos dos outros. A depravação que massacra reputações é a mesma depravação que mata corpos. Nossa raiva é facilmente alimentada em ódio contra os outros, e essa raiva é nada menos que um assassinato embrionário.[13] Embora a escala da devastação que causamos seja diferente e varie da mais violenta deste mundo, todos carregamos em nós as sementes da mesma depravação. E nossa depravação é inescapável.
Novamente, podemos resumir a depravação total não apenas como maldade, mas como cegueira para a beleza e morte para a alegria. Nosso problema básico não é que quebramos os mandamentos de Deus; nosso problema é que não temos interesse em Deus. Ignorar a beleza divina é a essência da depravação total. É o que torna a depravação tão holística – não podemos começar a imaginar como qualquer sensação real de prazer ou alegria pode ser encontrada em nosso Criador! Para nós pecadores, Deus é apenas um obstáculo chato para nossa alegria. Essa dinâmica é o que torna nossa depravação total.
Prazeres Culpados
Voltemos novamente aos antigos puritanos que entendiam como essa depravação astuta funciona. Eles disseram que ser dominado pelo pecado é ter os afetos do coração “viciados” – uma velha maneira de dizer que as emoções estão mutiladas além do reconhecimento. A depravação estraga o coração do que foi criado para ser e fazer.
A situação do pecador é esta: “Ele não pode ter sua vontade perversa satisfeita, ou suas afeições carnais satisfeitas”.[14] Quando o mundo natural não oferece mais prazeres satisfatórios, o coração anseia por prazeres não-naturais.[15] Porque as cobiças do pecador são insaciáveis, a soma total deste mundo finito não pode satisfazê-lo.
Somos pecadores à beira da morte que precisam desesperadamente de uma cirurgia de ponte de safena espiritual, mas gastamos nosso troco em cheeseburgers duplos. Ficamos felizes novamente com uma empolgação momentânea de comida, mas a emoção temporária está lentamente nos matando. Fundamentalmente, isso é o que significa ser um pecador, e nossos pecados autodestrutivos passam despercebidos porque são frequentemente aceitos socialmente (e, às vezes, socialmente celebrados). Mas por trás de todo o nosso pecado está um coração corrupto que cobiça não apenas aquilo que ignora a Deus, mas também o que arruína nossa alegria. Não aceitaríamos que fosse de outra maneira.
A realidade da depravação total nos coloca aqui. Amamos o que nos destrói; estamos cegos para o que nos satisfaz. A depravação total sufoca a felicidade da alma pelos próprios desejos rebeldes da alma. É a cegueira total para a beleza incomparável de Deus. É a resistência total à alegria suprema em Deus. É a essência de todo pecado. Pensamentos inferiores sobre Deus são a raiz de nossa depravação total. Esta é a grande tragédia humana. Isso é ateísmo afetivo.
Cobiçar orgasmos ímpios do coração é morte.[16] Estamos dispostos e culpados. Podemos encontrar apenas um remédio para essa depravação completa, mas não podemos encontrá-lo dentro de nós mesmos.
Agora o Quê?
Tudo isso é pesado, mas é onde o ato 1 do Projeto da Alegria termina e a cortina se fecha. A depravação total é uma desesperada impotência. Cada um de nós deve colocar sua vida em ordem - mas somos impotentes para fazê-lo.
Esta é a autoconsciência essencial de que precisamos. “A doutrina do pecado original é rude. É a mais incompreensível de todas as doutrinas”, disse o pastor Tim Keller. “E, no entanto, sem ela, nos tornamos incompreensíveis para nós mesmos”.[17]
Devemos entender a nós mesmos antes de podermos compreender o Projeto da Alegria de Deus. E se a autoconsciência é essencial, o ódio a si mesmo é impotente para remediar os problemas que encontramos em nossos corações. Nossos olhos devem ser direcionados para além de nós mesmos. “O Senhor não fala sobre o seu pecado para que pense que você é lixo”, escreve um calvinista moderno. “Ele fala sobre isso só porque você não é. Ele fala sobre isso porque fez você à sua própria imagem, com um plano infinitamente mais alto e mais brilhante para você do que aquele que escolheu para si mesmo”.[18]
Este é o plot twist (reviravolta no enredo). Deus nos aponta para nós mesmos para que ele possa nos afastar de nós mesmos. Revela nossa depravação para que possamos considerar a totalidade dele: a totalidade de seu amor, sua bondade e sua beleza. Ele nos dirige para dentro para que possa nos direcionar para fora - em direção à sua alegria que satisfaz a alma.
Fica claro, então, que à luz dessa tragédia humana chamada “depravação total”, nossa alegria verdadeira e duradoura depende de alguma ousada e divina infração de nossa autodestruição. Se quisermos viver, alguém deve intervir. Alguém deve nos quebrar. Alguém deve bater em nosso coração e capturar seu olhar de adoração. Devemos ser extasiados, libertos de nossos ídolos por uma beleza inigualável. Não precisamos de uma lista de soluções práticas para colocar nossas vidas em ordem; precisamos de um Deus amoroso para invadir nosso caos.
(Esse texto foi extraído do livro "O Projeto da Alegria" de Tony Reinke. Você pode adquirir o livro aqui.)
[1] C. S. Lewis, Mere Christianity (New York: HarperCollins, 2001), 49 [edição em português: Cristianismo puro e simples (Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017). [2] Sl 14:1. [3] Sl 14:1–4; Rm 3:10-18. [4] Richard Sibbes, The Complete Works of Richard Sibbes (Edimburgo, 1862), 1:181. Todas as citações foram retiradas de fontes originais; no entanto, a maioria das citações diretas neste livro extraídas de fontes dos séculos XVI e XVII foram ligeiramente modificadas em termos de redação e pontuação para melhorar a legibilidade. [5] Richard Baxter, The Practical Works of the Rev. Richard Baxter (Londres, 1830), 7:39. [6] John Calvin, Commentary on the First Twenty Chapters of the Book of the Prophet Ezekiel (Edimburgo, 1849), 231. Comentando sobre Ez 6:9. [7] 1 Jo 2:16. [8] David Foster Wallace, Infinite Jest (Nova York: Little, Brown, 1996), 235. [9] Sl 115:4-8. [10] Rm 1:23; 8:29; 2 Co 3:18; Cl 3:10 [11] Pense no retrato assombroso de Weston na ficção Perelandra, de C. S. Lewis. [12] Søren Kierkegaard, The Sickness unto Death: A Christian Psychological Exposition for Upbuilding and Awakening, vol. 19, Kierkegaard’s Writings, ed. Howard V. Hong e Edna H. Hong (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1983), 32-33. [13] Mt 5:21–22; 1 Jo 3:15. [14] Ralph Erskine, The Sermons and Other Practical Works of the Late Reverend and Learned Mr. Ralph Erskine (Glasgow: W. Smith, 1777), 1:390. [15] Rm 1:18-32. [16] Rm 8:6. [17] Tim Keller, “Coming to Christ, Part 1” (Sermão, Redeemer Presbyterian Church, New York, 4 de fevereiro de 1990). [18] D. Clair Davis, “Personal Salvation”, em The Practical Calvinist: An Introduction to the Presbyterian and Reformed Heritage: In Honor of Dr. D. Clair Davis on the Occasion of His Seventieth Birthday , ed. Peter A. Lillback (Fearn, Ross-shire: Christian Focus, 2002), 28.
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