Por Andrew M. Davis
Bem-vindo à rica e desafiadora jornada para a memorização extensiva das Escrituras! Você está prestes a iniciar um dos exercícios de esforço espiritual e mental mais estimulantes e recompensadores ao qual alguém poderia se dedicar: memorizar capítulos e livros inteiros da Bíblia. Esse esforço desafiará até a parte mais íntima do seu ser. Não só pelo fato de a memorização ser é uma tarefa árdua (e é mesmo), mas também pelo fato de os próprios versículos sondarem sua alma com a luz da perfeita Palavra de Deus. A memorização é mais difícil em alguns dias que em outros, e ela se torna mais difícil à medida que a pessoa se torna mais velha e atarefada.
Contudo, a recompensa do conhecimento da Palavra de Deus e da crescente intimidade com Cristo fará todo o esforço para alcançar esses desafios valer a pena.
Ao enfrentar os desafios da memorização extensiva, é bom se certificar de que Deus lhe ordena a proceder assim. A Escritura é muito clara ao dizer que Deus não deseja inovações quando o tema é agradá-Lo: Ele deseja a obediência simples: “O obedecer é melhor do que o sacrificar” (1Sm 15.22). Jesus disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14.15).
A incrível beleza da vida cristã consiste em aprendermos que o Senhor nos capacitará a guardar todos os Seus mandamentos pelo poder do Espírito Santo.
A passagem de Ezequiel 36.27 promete que Deus colocará Seu Espírito em nós e nos levará a seguir Seus mandamentos e ter o cuidado de guardar Suas leis. Sendo esse o caso, o incrível poder da Nova Aliança em Cristo consiste no fato de os mandamentos de Deus se tornarem promessas do que Ele fará na vida de cada um de nós por meio do Seu Espírito.
Então, Deus nos ordenou que memorizássemos as Escrituras? Sim, creio que Ele o tenha feito em muitas passagens, e que as Escrituras estimulam a memorização em outros lugares. Consideremos alguns textos importantes.
Em João 15, Jesus comparou a si mesmo com uma videira e os cristãos com os ramos que devem permanecer (ou viver, habitar, continuar) Nele a fim de que vivam e frutifiquem. Em João 15.7,8, Jesus é ainda mais específico, dizendo que se permanecermos Nele e Suas palavras (plural!) continuarem/viverem/habitarem/permanecerem em nós, então poderemos pedir o que quisermos e nos será concedido.
João 15.7,8: Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos.
Esta é a essência da frutificação pela qual glorificaremos a Deus e provaremos que somos discípulos de Jesus.
Mas o que significa ter as “palavras” (plural!) de Jesus continuando/vivendo/habitando/permanecendo em nós? No mínimo, significa conseguirmos nos lembrar delas. Mais do que isso, significa que elas estão cativando a mente e o coração de todos nós, multiplicando-se e se espalhando como fermento em nosso interior, dominando-nos cada vez mais o coração. Realmente não consigo perceber como isso poderia ser feito de maneira tão plena quanto Jesus pretende que seja, a não ser por meio da memorização.
Semelhante a esta passagem é o mandamento de Paulo aos colossenses:
Colossenses 3.16: Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.
Como podemos obedecer ao mandamento de maneira plena, além de nos valermos da memorização? Ao saturarmos a mente com a Palavra de Deus e mantê-la de modo contínuo diante de nós, poderemos obedecer às palavras de Paulo aqui.
Além desses versículos, alguns outros do Antigo Testamento mencionam o povo de Deus a meditar na Palavra divina “dia e noite”. Antes da invenção da prensa de tipos móveis por Gutenberg, em 1439, as Bíblias eram copiadas à mão e custavam muito caro. Apenas uma pequena porcentagem do povo de Deus conseguia obter cópias pessoais da Palavra de Deus. Portanto, meditar “dia e noite” sobre uma passagem significava tê-la memorizado:
Salmos 1.1-3: Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem-sucedido.
Josué 1.8: Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido.
Salmos 119.97: Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia!
Salmos 119.148: Os meus olhos antecipam-se às vigílias noturnas, para que eu medite nas tuas palavras.
O mesmo vale para nós hoje: em nossa era abençoada, a Palavra de Deus se tornou acessível com tanta facilidade a muitos membros do povo de Deus! Meditar nas Escrituras de modo contínuo (“dia e noite” ou “o dia todo”) é muito difícil sem a memorização.
Algumas passagens em Provérbios mencionam o armazenamento dos mandamentos divinos em nosso interior:
Provérbios 2.1-6: Filho meu, se aceitares as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o coração ao entendimento, e, se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento.
Provérbios 7.1-3: Filho meu, guarda as minhas palavras e conserva dentro de ti os meus mandamentos. Guarda os meus mandamentos e vive; e a minha lei, como a menina dos teus olhos. Ata-os aos dedos, escreve-os na tábua do teu coração.
Se você ler as duas passagens anteriores com atenção, elas parecem nos levar diretamente à disciplina da memorização. O que significa “esconderes contigo os meus [de Deus] mandamentos”, além de memorizá-los? A segunda passagem fala o registro dos ensinamentos de Deus na “tábua do teu coração”. Isso parece memorização para mim!
Talvez um dos versículos mais conhecidos sobre a memorização provenha de Salmos 119, o maravilhoso e complexo poema de louvor à perfeição da santa Palavra de Deus. No versículo 9, temos uma recomendação clara da memorização, com um motivo poderoso — a santidade pessoal:
Salmos 119.11: Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti.
De modo semelhante, Deuteronômio 6 ordena que os pais judeus tenham a Palavra de Deus “no coração” e “as afiem” (o termo hebraico originário é traduzido como “inculcar”):
Deuteronômio 6.6,7: Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás (lit. “as afiarás”) a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.
Se você ler essas palavras vitais com atenção, o forte sentido da memorização ficará evidente.
O que significa ter esses mandamentos (plural!) “no coração”? Não estou inferindo que a memorização seja o bastante para cumprir isso, mas ela pode muito bem ser necessária — ou pelo menos útil. E como você pode falar sobre os mandamentos de Deus de maneira contínua com seus filhos enquanto anda pelo caminho se não puder recitar seu conteúdo? A palavra “inculcar” (“afiar”) implica em escutar continuamente os mandamentos de Deus — algo que acontece o tempo todo. Mais uma vez, a implicação disso aponta para a memorização.
Por último, considere as palavras de Tiago:
Tiago 1.22-25: Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.
O que poderia ser mais claro do que isso? Se nós não nos esquecemos da Palavra de Deus depois de lê-la, e continuamente contemplamos Sua verdade, qual seria o significado dessa ação além da recordação dela? Outra palavra para designar a lembrança contínua da Palavra é sua memorização.
(O texto acima foi extraído do livro "Um Método para Memorização Extensiva da Bíblia" de Andrew M. Davis. Você pode comprar o livro aqui.
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