Por Hensworth Jonas
Um dos problemas constantes das missões cristãs é que elas foram, e sempre serão, mal-compreendidas e caluniadas. Em nossa geração, o principal desafio é combater a acusação de intolerância. Precisamos combater essa alegação, pois sabemos que o oposto é verdadeiro.
Os versículos anteriores fornecem o contexto para a afirmação de Jesus. Mateus 11.25 diz: “Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos”. Ao longo dos anos esse versículo foi interpretado de forma errônea, como se significasse que apenas os menos letrados acreditariam no cristianismo, enquanto os mais eruditos (sábios e instruídos) não creriam. Não é isso o que nosso Senhor Jesus está dizendo aqui. Pelo contrário, Seu ponto de vista é simples:
os arrogantes se contentam em continuar uma busca fútil, enquanto os humildes estão dispostos a pedir orientações.
A elite intelectual pretensiosa de cada geração agarra-se às suas especulações hipotéticas e dramáticas sobre a realidade numa busca incessante pela verdade. Ao mesmo tempo, pessoas humildes estão abertas a ouvir a única explicação consistente da realidade conhecida pelo homem, que é o cristianismo bíblico.
Há duas abordagens aqui. O Senhor Jesus expõe aqueles que O chamam de arrogante, mesmo que eles próprios insistam que a revelação divina não é digna de consideração inteligente. Eles desprezam Suas afirmações bíblicas e, sem pensar, presumem que não têm nada a oferecer. Assim, a vã especulação continua sem um final aparente. Muitos intelectuais são abertamente anti-intelectuais, pois se recusam até mesmo a avaliar as alegações bíblicas de Cristo. Tentam sondar questões como o significado da vida, o problema do mal, a existência de Deus e a essência da moralidade, enquanto ignoram todo um corpo de conhecimento teológico que nos foi dado por Deus.
Nosso Senhor faz uma distinção nítida entre aqueles que estão nessa jornada pretensiosa e aqueles a quem chama de “pequeninos”.
Os pequeninos são pessoas humildes que se recusam a permitir que o preconceito intelectual elimine opções críveis.
São aqueles cuja única intenção é encontrar a verdade, cuja única lealdade é à evidência e àquilo que é logicamente consistente. Essas pessoas não só consideram as alegações daqueles que procuram encontrar Deus, mas também consideram os dizeres Daquele que desceu de Deus – o Deus encarnado, o próprio Jesus. Elas se contentam em deixar que todas as vozes expliquem seu ponto de vista, até mesmo a voz audaciosa de Cristo com Suas reivindicações exclusivistas.
Nosso Senhor deixou bem claro que se você tiver certeza de que não existem respostas específicas ou definitivas, que é a posição de muitos em nossa geração pós-moderna, não obterá nenhuma. Deus geralmente retém a luz daqueles que confiam em suas trevas. Se descartarmos a possibilidade de revelação, nunca encontraremos Sua verdade. Não é possível enxergar com os olhos fechados; algo deve abrir nossos olhos se quisermos discernir a verdade do Senhor. Aqueles que alegam ser sábios e prudentes também podem afirmar ser tolerantes e inclusivos, mas são exatamente o oposto. Quem está fechando as portas para a investigação? Não são os pequeninos desse texto. Estes são humildes o suficiente para considerar a revelação divina, pois dirão: “Se Deus realmente desceu à terra, vamos ouvir o que Ele tem a dizer”. Essa é a verdadeira tolerância e inclusão.
O apóstolo Paulo condena de forma semelhante a falsa sabedoria deste mundo em 1 Coríntios 1.20, onde diz: “Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?”. Tentar chegar a Deus através da religião criada pelo homem (ou seu equivalente secular), não fez com que a humanidade O conhecesse.
Deus demonstrou que a sabedoria humana é uma completa tolice.
A sabedoria mundana ressente-se de qualquer reivindicação de verdade exclusivista. Assim, quando nosso Senhor declara: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6), o mundo chama isso de preconceito de mente fechada. No entanto, há um problema lógico com essa posição. Qualquer um que considera uma afirmação de verdade exclusiva intrinsecamente inválida, só pode descartá-la afirmando possuir ela mesma uma verdade exclusiva. É uma posição absurda, contraditória e autodestrutiva.
A sabedoria deste mundo é inerentemente tola. O pecado nos torna estúpidos e muito orgulhosos disso.
Dizer que ninguém possui toda a verdade pode parecer muito inclusivo, mas tal afirmação é, em si mesma, uma alegação de possuir uma verdade superior. Da mesma forma, aqueles que argumentam que o proselitismo é imperialista e errado, são proselitistas ao insistir que outros adotem seu ponto de vista. Se aqueles que são contra as missões cristãs tentam nos mostrar que nossa compreensão teológica seria errada, por que a oportunidade de nós mostrarmos aos outros que sua visão da realidade está errada deveria ser negada?
A verdade é que ninguém pode evitar a exclusividade. Em última análise, todos chegam a algumas crenças que consideram universalmente verdadeiras. Abusar de crianças é errado, o tráfico sexual é errado, o assassinato de seis milhões de judeus cometido por Hitler foi errado – poucas pessoas estão dispostas a abandonar todos os absolutos. Mas mesmo que rejeitem todos os demais absolutos, devem apegar-se a uma afirmação: que Jesus Cristo não foi o infinito Deus-homem que veio para nos salvar dos nossos pecados. O relativismo é um posicionamento autodestrutivo. Aqueles que o afirmam estão dizendo a outras pessoas para não agirem como eles ao apresentarem argumentos a favor do relativismo.
Sim, precisamos provar ao mundo que não temos uma mente fechada, pois a mente fechada tem a ver com atitude e não com conteúdo. Mostrar a alguém que ele está errado e você detém a verdade não é ser mente fechada, mas o tornar-se presunçoso acerca do fato de saber a verdade, sim. Seria uma atitude de mente fechada o desrespeitar a humanidade de outra pessoa só porque você acredita que ela está errada. Seria característico de uma mente fechada questionar os motivos das pessoas só porque discordam de você.
Os cristãos bíblicos não são intolerantes apenas porque as reivindicações de Cristo são exclusivistas. Qualquer pessoa que faça tal acusação é flagrantemente intolerante. Os cristãos não são imperialistas apenas porque desejam envolver-se no mercado das ideias. Por que as vozes anticristãs deveriam ser as únicas que têm permissão para falar? Nós cristãos devemos enfrentar todas as iniciativas de silenciar nossas vozes em praça pública ou intimidar-nos de falar a verdade. Pelo contrário, devemos estar “sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor” (1Pe 3.15-16).
Texto original retirado do livro "Radicais: Discipulado Em Um Mundo Hostil", de Hensworth Jonas, publicado em português pela Éden Publicações.
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