Por Scott T. Brown
“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.” (2 Tm 3.14,15)
Quando Deus ordenou a Josué: “Sê forte e corajoso” [Js 1.9], Ele também lhe disse o que precisava fazer para ser forte e corajoso. Ele precisava do foco de um feixe de laser para conhecer os mandamentos de Deus e obedecê-los. Da mesma forma, as famílias são tão fortes quanto seu conhecimento e sua prática. Se você deseja uma família forte, faça o que as famílias fortes fazem. Além disso, a força de sua família exercerá um impacto profundo sobre a força da igreja local. Por isso Thomas Manton declarou na introdução da Confissão de Fé de Westminster:
A família é o seminário da Igreja e do Estado; e se os filhos não receberem os bons princípios ali, tudo sai dos eixos.[1]
Você deve entender como as famílias são importantes para a saúde da igreja local. As famílias entregam pecadores e santos à igreja. Se seus filhos não forem instruídos em todo o conselho de Deus, a igreja arcará com o fardo. Por favor, não negligencie sua família. A saúde da igreja local depende de como você governa seu lar.
Richard Baxter entendeu isso muito bem:
Uma família santa e bem governada consiste na preparação para uma igreja santa e bem governada.[2]
A família é como uma fonte de abastecimento. Uma fonte de abastecimento é um pequeno riacho que flui para um maior. A família é assim para a igreja: ela é pequena, mas abastece a igreja maior com pessoas. A família é uma fonte que sempre abastece, fluindo para a igreja e para o todo o mundo.
A vida doméstica de Timóteo representa uma poderosa ilustração dessa situação. Ele foi preparado para a vida pela mãe e pela avó em casa, mediante o uso da Palavra de Deus. Paulo escreveu sobre a vida familiar de Timóteo ao dizer: “Pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti” (2 Tm 1.5).
Deus projetou o seu lar para ser uma espécie de berçário da igreja, como ocorreu com o lar de Timóteo. Todo membro da igreja vem de uma família. Os indivíduos da família são moldados pela beleza ou pela feiúra, pela fidelidade ou pela rebeldia vividas ali. Pense no significado do fato de o lar preencher a igreja com seus membros.
Por isso desejo que você entenda que o seu lar é como uma fonte de abastecimento. Daí o caráter fundamental da saúde do lar para a saúde da igreja. Deus projetou o lar para ser uma comunidade de discipulado. Ele prepara os filhos para a comunidade de discipulado da igreja. É assim que o lar exerce um impacto tão profundo sobre a saúde da igreja.
Além disso, o lar é uma imagem da igreja. Seguem-se aqui três exemplos: Primeiro, o marido é o cabeça da esposa da mesma forma que Cristo é o cabeça da igreja. Segundo, a esposa se submete ao marido, como ao Senhor, a retratar assim a submissão de todos a Deus na igreja. Terceiro, os filhos no lar honram e obedecem a seus pais no Senhor, retratando a honra e a obediência devida por todos a Deus na igreja. Por isso a obediência aos mandamentos divinos na vida doméstica prepara os filhos para a vida na igreja.
Infelizmente, as deficiências e as “contas não pagas” da vida familiar são cobradas, por fim, na vivência na igreja local. Já as riquezas da vida em família, as “contas pagas”, são somadas ao patrimônio. Por isso, vários escritores mais antigos disseram que a família era o “seminário” da igreja. Eles criam que se o ensino bíblico fosse negligenciado no lar, o ensino na igreja não seria muito eficaz. Richard Baxter escreveu:
A vida religiosa, o bem-estar e a glória da igreja e do estado dependem muito do governo e deveres da família. Se suportarmos essa negligência arruinaremos tudo.
E continuou:
... o que devemos fazer para corrigir uma congregação, se todo o trabalho for lançado apenas sobre nós, caso os chefes de família negligenciem o seu dever necessário que os compele a nos ajudar? Se algum bem for iniciado pelo ministério em qualquer alma, a família mundana, descuidada, que não ora, provavelmente o sufocará ou o atrapalhará muito...[3]
Samuel Phillips disse assim:
A igreja concede ao lar um ministério religioso sagrado, uma vocação espiritual, uma missão divina.[4]
Considere o profundo impacto exercido pelo lar de Timóteo sobre seu caráter e conhecimento quando ele se tornou pastor. Paulo lhe escreveu sobre a continuidade das coisas boas que aprendeu no lar:
Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2 Tm 3.14-17).
Aqui estão onze maneiras pelas quais a família deve ser o berçário da igreja:
Primeira, deve ser o lugar onde a sã doutrina é estabelecida:
Tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te (Dt 6.7; Ef 6.4).
Segunda, deve ser o lugar onde a esposa é lavada com a água da Palavra, sendo embelezada pelo marido por meio das Escrituras (Ef 5.25-29).
Terceira, deve ser o lugar onde os filhos são treinados na disciplina e na admoestação do Senhor (Ef 6.1-4).
Quarta, deve ser o lugar onde as famílias inteiras ouvem o evangelho e os perdidos se voltam para a graça de Cristo (Ef 6.4; At 10).
Quinta, deve ser o lugar onde a semente piedosa é plantada (mediante a conversão) e cultivada:
Não fez o Senhor somente um, mesmo que lhe sobrasse o espírito? E por que somente um? Porque buscava uma descendência piedosa. (Ml 2.15 - NAA).
Sexta, deve ser o lugar onde a maldição de Deus é afastada:
Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor; ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição (Ml 4.5,6).
Sétima, deve ser o lugar onde marido e mulher permanecem juntos na condição de herdeiros da graça da vida:
Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações (1 Pe 3.7).
Oitava, deve ser o lugar onde a iniquidade é desviada das gerações vindouras:
Porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos (Êx 20.5,6).
Nona, deve ser o lugar da união no casamento, onde os filhos aprendem que a casa dividida contra si mesma não pode subsistir:
Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; porque somos membros do seu corpo. Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja. Não obstante, vós, cada um de per si também ame a própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite ao marido. (Ef 5.28-33).
Décima, deve conceder à igreja lugares para se reunir, onde a hospitalidade seja praticada como a igreja que se reunia na casa de Priscila e Áquila (1 Co 16.19; 1 Pe 4.9).
Décima primeira, deve ser o lugar onde os presbíteros são preparados a fim de serem qualificados:
É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?). (1 Tm 3.2-5).
Desta forma, o seu lar exerce um impacto profundo sobre a igreja — para o bem ou para o mal. A igreja precisa de famílias que se pautem pelo ordenamento bíblico.
Se você quer igrejas fortes, forme um lar forte, seja ele constituído por uma família, um casal ou uma pessoa solteira. A Bíblia deixa claro que o lar precisa da igreja e a igreja precisa do lar. Eles desempenham papéis duplos e paralelos. Um elemento torna o outro fértil.
Portanto, faça do seu lar uma fonte de abastecimento saudável, um lindo berçário para a glória de Deus na igreja local. Como disse Baxter: “Se suportarmos essa negligência arruinaremos tudo”.[5]
(Esse texto foi extraído do livro "A Família na Igreja: Como Pais São Guias para a Alegria". Você pode adquirir o livro aqui.)
[1] Assembleia de Westminster (1643-1652), Westminster Confession of Faith (Glasgow, Scotland: Free Presbyterian Publications, 2003), p. 9. [2] The Practical Works of Richard Baxter, vol. 1: A Christian Directory (Ligonier: Soli Deo Gloria Publications), p. 425-6. [3] Richard Baxter, The Life of the Reverend Richard Baxter (London: London Religious Tract Society, 1799), p. 83-4. [4] Samuel Phillips, The Christian Home: as it is in the sphere of nature and the church (Springfield: Gurdon Bill, 1865), p. 35. [5] Richard Baxter, The Reformed Pastor (Glasgow: William Collins, 1829), p. 158 [edição em português: O pastor aprovado (São Paulo: PES, 2016)].
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