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A Economia do Aborto em uma Lição

Foto do escritor: Kevin DeYoungKevin DeYoung

Por Kevin DeYoung


O livro clássico de Henry Hazlitt, "Economics in One Lesson" (1946), realmente cumpriu o título audacioso. "A arte da economia", escreveu Hazlitt, "consiste em olhar não apenas para o imediato, mas para os efeitos mais duradouros de qualquer ato ou política; consiste em traçar as consequências dessa política não apenas para um grupo, mas para todos os grupos". Isso quer dizer que a lição econômica é que temos que olhar para os efeitos e as histórias que são mais difíceis de ver, mas não menos reais e importantes.


Hazlitt insistiu que a economia era assombrada pela falácia de negligenciar as consequências secundárias. Em seu exemplo famoso, Hazlitt imagina um jovem baderneiro que atira um tijolo pela janela da padaria. O dono da loja está compreensivelmente furioso, mas logo a multidão que se reuniu começa a conjecturar que a janela quebrada pode na verdade ser uma grande bênção. Afinal, a janela quebrada significará novo negócio para o vidraceiro (reparador de janelas), que então terá mais 250 dólares para gastar com outros comerciantes, que, por sua vez, terão mais dinheiro para gastar em outros bens e serviços. O menino travesso, que parecia a princípio ser uma ameaça pública, acaba sendo um benfeitor público.


Mas não tão rápido, argumentou Hazlitt. É verdade que a janela quebrada significará mais negócios para o vidraceiro, e ele gastará esse dinheiro de outras maneiras. Mas os 250 dólares tiveram que vir de algum lugar, e neste caso, vieram do dono da loja. Era dinheiro que ele poderia ter gasto com outros comerciantes e em outros bens e serviços. No mínimo, o benefício econômico é nulo; a dor do dono da loja é o ganho do vidraceiro.


É pior do que isso, no entanto. Nada de novo foi criado na reparação da janela da loja. Não foi adicionado nenhum novo emprego. Nenhuma nova produtividade foi alcançada. Se quebrar janelas é o segredo para uma economia em crescimento, então a guerra seria a melhor coisa que poderia acontecer a um país. Mas, é claro, não é. Talvez a destruição da guerra possa ser bom negócio para empresas de construção e empreiteiras de estradas, mas isso é apenas se olharmos para o que está bem na nossa frente. O que não podemos ver são as pessoas com menos dinheiro porque foram taxadas para pagar pela nova construção. Não podemos ver todas as outras coisas que elas poderiam ter feito com esse dinheiro. Não podemos ver como as pessoas teriam sido colocadas em trabalhos mais úteis se a cidade não tivesse sido arrasada. Não podemos ver as pessoas bombardeadas de suas casas, encolhidas em um abrigo temporário (pago por doações ou por mais impostos). Em resumo, vemos o óbvio, mas ignoramos as consequências secundárias.


A mesma falácia está em jogo quando se trata de economia e aborto. Claro, o aborto é fundamentalmente errado porque a vida começa na concepção, toda vida humana é feita à imagem de Deus e as pessoas inocentes têm o direito à vida dado por Deus. Então, mesmo que o aborto fizesse grande sentido econômico, o aborto ainda estaria errado. Mas vamos pensar sobre o argumento econômico em seus próprios méritos. Muitas pessoas argumentam que o acesso ao aborto é necessário porque ajuda as mulheres a escaparem da pobreza e da miséria. Em sua melhor forma, o argumento pode ser assim:


"O aborto não é desejável, mas às vezes é a única maneira de evitar uma vida de extrema carência. Sem acesso ao aborto, muitas mulheres serão obrigadas a dar a luz à filhos que elas não podem custear. O resultado é o empobrecimento econômico para a criança e para a mulher. O aborto é um bem econômico, sem o qual as mulheres estariam muito pior".


Como devemos responder a esse tipo de pensamento? Para começar, podemos responder do ponto de vista da criança: que a vida é melhor do que não viver. Dada a escolha, acredito que a maioria de nós prefere circunstâncias difíceis à morte. Também podemos fazer a pergunta se qualquer argumento que possa ser usado para justificar a matança de crianças no ventre materno – em prol do benefício econômico – pode ser usado com a mesma lógica para justificar a matança de crianças fora do útero. Posso lhe dizer por experiência que as crianças são menos dispendiosas quando recém-nascidas. Os verdadeiros ônus econômicos vêm depois. As crianças podem ser eliminadas aos 6 ou 16 anos, ou apenas com 6 semanas no ventre, quando o ônus econômico é menor?


Ainda assim, mais ao ponto, o argumento econômico a favor do aborto falha em levar em conta a única lição econômica de Hazlitt. É fácil pensar como uma mulher individualmente pode se beneficiar economicamente ao não ter que prover para uma criança. O que é mais difícil de ver são todos os incentivos econômicos devastadores que o aborto coloca em movimento.


A presença de abortos generalizados, legais e facilmente acessíveis nos Estados Unidos reforça a narrativa de que os homens não têm controle sobre seus apetites sexuais e que os homens não devem ser esperados a cumprir suas responsabilidades como pais. Longe de capacitar as mulheres, o aborto capacita os homens a esperar (se não exigir explicitamente) que a atividade sexual seja livre de quaisquer consequências. Isso, por sua vez, desestimula os homens a considerar o casamento em primeiro lugar. Isso é a maneira mais garantida de empobrecer as mulheres.


O aborto faz pelos pobres o que o jogo de apostas faz pelos pobres. O jogo de apostas legalizado parece uma oportunidade de escapar da pobreza, mas os custos sociais do jogo – produtividade perdida, desemprego, doença, divórcio, abuso, negligência – são enormes. Da mesma forma, o aborto parece um ganho econômico, mas apenas se nos recusarmos a olhar para os maiores custos sociais.

De forma avassaladora, os abortos na América são realizados por mulheres solteiras – 85% das mulheres que fizeram abortos em 2019 eram solteiras. Isso pode parecer uma razão pela qual as mulheres precisam de acesso ao aborto, mas esse argumento falha em abordar as formas maiores pelas quais o aborto desvaloriza o sexo, mina o casamento e coloca pressão sobre as mulheres para ceder a uma perspectiva centrada nos homens que vê a intimidade sexual como focada na gratificação física em vez de ser direcionada à formação da família e à criação de filhos. Se o aborto parece uma "cura" socioeconômica, é apenas porque é um componente importante da doença. E isso sem dizer da perda de atividade econômica que ocorre como resultado de remover milhões de potenciais trabalhadores americanos da força de trabalho e da base tributária.


Se o aborto se tornar menos disponível e mais estigmatizado, algumas mulheres sentirão isso como dor econômica a curto prazo. Mas os ganhos socioeconômicos a longo prazo serão significativos, e os maiores vencedores (além das crianças que têm a oportunidade de viver) serão as próprias mulheres.



 

Artigo traduzido por Éden Publicações e publicado com permissão de Christ Over All.

Todos os direitos reservados por Christ Over All e Kevin DeYoung.

Leia o original em inglês aqui.

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